(Exraído do site www.bvespirita.com)
Adésio Alves Machado
Desamparo, mendicância, crianças abandonadas, doentes sem assistência médica e psicológica, velhos desabrigados formam todo um contingente de irmãos necessitados de sobrevivência material/moral/espiritual.
O número sempre crescente de cristãos/espíritas vive sensibilizado pela dor alheia, sentindo em si a dor do semelhante, fazendo suas as lágrimas por ele derramadas. Ele, o espírita, é parte desta coletividade, e o que ela sente, o atinge doridamente; não pode ser de outra forma.
Muitas vezes passa pela nossa cabeça cristã o desejo de encontrar uma solução imediata para essas situações envolvendo irmãos e irmãs em humanidade, quando a todos desejamos a felicidade relativa que o mundo pode, apenas, oferecer.
Criar uma nova casa assistencial, dotá-las das melhores condições para abrigar crianças e idosos, expressando a vivência da legítima caridade, leva ao candidato a cristão/espírita a pensar, falar e realizar assistência social.
Estão sempre sendo abertas aqui e ali obras assistenciais respeitáveis, com capacidade de aliviar muita dor e sofrimento, que aflige os menos dotados de recursos amoedados.
Quem se aproxima do Espiritismo logo compreende a necessidade de acercar-se do trabalho de assistência ao próximo, sem o que sua atuação de espírita fica em débito com a própria consciência, ainda mais quando logo compreende a significação da frase que é um verdadeiro slogan da Doutrina Espírita: “Fora da caridade não há salvação”.
Podemos aditar que não há mesmo!
Seres pensantes que somos, precisamos ter sempre em mente que até os impulsos nobres, partindo do coração, claro, merecem de nós todo um cuidado observador, ampla consideração e detalhado exame.
O espírita, reencarnacionista por excelência, sabe que a dor não bate, jamais, em porta errada, sabe sempre o endereço certo, para lá se encaminhando na primeira oportunidade, porque a lei de ação e reação a impele, inexoravelmente, procurando fixar nos painéis mentais da criatura comprometida, sua responsabilidade diante da circunstância infeliz por que passa.
O espírita procura conciliar o que estuda e ouve na doutrina que o abençoa, levando-o a mergulhar fundo nas causas do sofrimento do semelhante, nele vendo e sentindo um irmão carente. Visita-o sempre mentalmente, com isso ilumina-se, interiormente.
Há aqueles que exteriorizam toda uma feição espírita, sem, no entanto, movimentar-se pelo caminho da caridade de forma segura, o que evidencia uma falta de convicção nos postulados religiosos esposados.
Precisamos ser espíritas e nos olharmos como tais, dessa maneira aproveitando a oportunidade de desfrutamento de uma doutrina tão transformadora em todos os aspectos espirituais.
Ser espírita é ter por hábito a fidelidade ao dever, o respeito às tarefas dos outros, é ser portador de discrição e sinceridade, mostrar-se um cultivador da fé inabalável e da humildade, com tolerância às falhas alheias, é saber cultivar a fraternidade e a solidariedade, mesmo que possa perceber a conspiração do mal que poderá atingi-lo.
Nessas horas renuncia às ambições, alegra-se espontaneamente e enche o coração de esperança e renovação, acreditando que tudo quanto for seu a si virá, segundo a Vontade Soberana do PAI.
Assistência social e filantropia nunca serão deixadas de lado, pelo contrário, serão sempre um lábaro a tremular no céu dos corações espiritistas.
O Espiritismo tem por objetivo a estruturação moral do homem, tendo sido esta a grande iniciativa de JESUS, que procurou o mais possível cercá-lo pelas legítimas verdades evangélicas, as quais induzem amorosamente às manifestações do amor a si mesmo e ao próximo, o que redundará no amor ao CRIADOR.
Joanna de Ângelis é bem clara e sugestiva quando conceitua a vivência do Espiritismo com assistência social e esta com aquele, porque, em verdade, não pode haver essa doutrina, entregue a nós por JESUS com muita lágrima, sangue e dor, sem aquela que é a sua base indestrutível e a sua complementação – a caridade.
Somos permanentemente chamados a sermos hoje melhores do que ontem, e amanhã melhores do que hoje, introjetados que todos estamos no processo evolutivo que nos levará à perfeição espiritual.
Sendo tudo aqui exposto levado em consideração, chega-se infalivelmente à conclusão que nós espíritas precisamos estudar de forma eclética as várias angulações da existência, a fim de encontrarmos as origens da vida no seu aspeto global, para que, só desta maneira, nos entreguemos a um trabalho de apoio a nós mesmos, fortalecendo-nos pela renovação, e apresentando sempre um índice crescente de melhoras morais/espirituais, a todo instante.
O Espiritismo, ao mesmo tempo que ampara o presente, o agora, estimula a busca mais amena, mais feliz do futuro, proporcionando meios e recursos ao homem vivamente interessado pela sua reforma de comportamento e de valores.
Jamais abandonemos um trabalho de assistência material, no entanto, a assistência moral e espiritual possui transcendental importância, tem total primazia em nossas vidas, pelo fato dela poder resistir a toda intempérie característica do nosso mundo.
Sabemos da resistência que se encontra nas fileiras espiritistas, quando se insinua a busca do estudo, do aprendizado priorizando a doação material. Esta expressão da caridade não tem existência real sem estudo, compreensão doutrinária, único e infalível meio para nos situarmos harmonicamente dentro da vida.
Pensarão muitos, afervorados que se acham ao preceito básico do Espiritismo – fazer o bem -, que essa prática não deve ser trocada pelo impositivo do estudo.
Acontece que, no nosso entendimento, a verdadeira reunião de tratamento que poderá chegar à cura, é a de estudos doutrinários. Freqüentando ela, o candidato ao desfrute de saúde e de bem estar moral/espiritual, passará a conhecer o porquê da vida, a causa de suas dores e das dores alheias, capacitando-se desta forma para uma existência mais feliz. Conhecer a raiz da doença não é a primeira e principal iniciativa de todo médico ao receber seus pacientes?
Na assistência social não devemos esquecer a necessidade de converter corações ao bem, ao trabalho, ao controle emocional, ao conhecimento mediante o estudo, à pureza de sentimentos, sem os quais o carente social não se revestirá de fortaleza interior para novo rumo imprimir à sua vida.
Certa mulher untou os pés de JESUS com perfume de rara fragrância, sendo advertido por Judas. Que fosse o dinheiro gasto no perfume aplicado na prática da caridade material aos pobres. Não percebia o equivocado apóstolo que, aquela mulher transformada pela palavra de JESUS, já vivenciava o nobre sentimento da gratidão.
Possivelmente ouvira falar da cura dos dez leprosos, quando só um voltou para agradecer.
Apoio: Autora Espiritual De Ângelis, Joanna, livro Dimensões da Verdade, páginas 49 a 52, psicografia de Divaldo P. Franco, Livraria Espírita Alvorada – Editora.
(Artigo publicado originalmente em Reformador / FEB – janeiro de 2001)