Anália Franco “A Grande Dama da Educação Brasileira”
“A Grande Dama da Educação Brasileira”.
Homenagem à Grande Dama da Educação Brasileira.
Se uma mulher, sem grandes posses ou fama, iniciasse uma cruzada para amparar crianças órfãs, recolhendo-as e dando-lhes, além de uma educação primorosa, uma formação profissional, provavelmente encontraria em nossos dias grandes dificuldades. Se ela se empenhasse em conseguir bem mais que simples donativos, que buscasse um engajamento da sociedade nesta tarefa, mostrando que o papel da mulher se estende bem mais que o limite familiar e que dela depende a formação das futuras gerações, que o esforço empregado e a dedicação ao próximo são valiosas oportunidades de crescimento pessoal, provavelmente seria evitada nas rodas sociais e acusada de ter posições extravagantes. Imagine então, esta mesma mulher, lutando por seus ideais, na São Paulo da virada do século XIX para o XX, uma cidade provinciana, ainda centro de uma economia baseada na cafeicultura e ainda adaptando-se as novas realidades criadas pelo fim da escravidão. Cidade quatrocentona, onde o papel da mulher era adornar o lar e onde sua educação era considerada prejudicial ao perfeito desempenho de suas funções. Cidade onde matronas respeitáveis eram as que exerciam seu reinado doméstico isoladas das duras realidades da fome e da miséria.
Nesta São Paulo conservadora, ainda longe de ser a cidade cosmopolita do final do século XX, toda família que se prezasse mostrava profundo respeito pelas tradições centenárias e não deixava de ser assídua frequentadora das missas celebradas nas importantes igrejas da cidade ou nas capelas de suas propriedades territoriais.
Imagine-se agora uma mulher espírita e diante de uma grande obra!
Pois bem, esta mulher extraordinária existiu e embora sua obra tenha sido esquecida ou não se queira oficialmente relembrá-la, foi um dos maiores nomes da educação brasileira.
Foi Anália Emília Franco, abnegada servidora do Cristo, que deu vida ao chamamento evangélico do “vinde a mim os pequeninos” criando creches e orfanatos. Educou a infância carente, filhos de homens livres ou de ex-escravos, tendo inclusive sido uma das poucas vozes em favor das crianças negras enjeitadas pelos fazendeiros ao perderem seu valor comercial com o fim da escravidão.
Foi, no Brasil, das primeiras a prover educação profissional para as meninas pobres, dando-lhes condições de sustentarem a si próprias.
Foi espírita e em seus educandários direcionou o ensino religioso para o estudo do evangelho, sem partidarismos e sem fanatismos, participou de grupos espíritas e nunca escondeu este fato, o que lhe trouxe inimigos poderosos.
Curiosamente, desta mulher que tanto fez pelo ensino brasileiro, que bem pouco havia progredido até sua época, pouco se fala, quase não se fazem homenagens públicas e não fosse o bairro que lhe leva o nome, onde hoje há um famoso shopping e grandes instituições de ensino, estaria completamente esquecida pelas gerações mais jovens, justamente as maiores beneficiárias de sua atuação revolucionária. Se a história oficial dela se esqueceu, o mesmo não se passa conosco, espíritas, que lhe guardamos as lições de aplicação do amor ao próximo em serviço ativo e oramos para que – dos planos elevados em que agora merecidamente deve se encontrar – continue olhando pela juventude brasileira, ainda tão carente de uma sólida formação intelectual e moral quanto nos tempos em que levantou entre nós seus educandários.