Advertências Espirituais

Advertências Espirituais

Deolindo Amorim

“Não acredito muito nessas coisas… Mas senti a presença de minha mãe e modifiquei o que estava escrevendo.”

Assim me falou, certa vez, um conhecido meu, faz alguns anos. Pelo que dizia, era cético em relação a comunicações do mundo espiritual. Disse-me ele, porém, que, tendo sido encarregado de um inquérito administrativo, estava à máquina, redigindo a conclusão do inquérito, mas em termos muito radicais, fazendo uma carga bem forte no funcionário acusado. Iria inutilizá-lo mesmo se não tivesse havido uma intervenção emocional, estranha e inesperada. Intervenção de quem?… Não viu nenhum vulto na sala, mas sentiu uma emoção muito forte, de um momento para outro, e quase chorara, apesar de ser um homem muito frio, por temperamento. Mas ia chorando e parou de escrever. Sentiu a presença de sua mãe, pela vibração, como se estivesse a lhe dizer:

— Meu filho, abrande essa informação; não seja tão rigoroso!

Foi o que ele me contou, embora não acreditasse muito nessas coisas…

Emocionado, como que dominado por uma força amorosa, arrancou o papel da máquina, rasgou tudo e escreveu outra página, muito diferente. Declarou-me que estava convicto da interferência de sua genitora. Ainda bem…

Muitos e muitos casos poderiam ser relatados, especialmente na vida familiar. Ainda que não se dê a presença de um espírito diretamente, por meio de manifestações físicas, o certo é que qualquer pessoa está sujeita a captar influências inesperadas. É a experiência que o demonstra.

Muitas vezes, quando estamos pensando sobre determinados problemas, ou quando estamos escrevendo, ocorrem ideias, que passam como relâmpagos, e nem sempre percebemos que essas ideias são de outra origem. Nosso contato com o mundo espiritual é muito e muito mais frequente do que supomos, o que, aliás, não é novidade para quem está “enfronhado” nesse assunto.

Nossa sensibilidade, desde que tenhamos condições predisponentes, tanto pode ser influenciada, pelas vibrações momentâneas de espíritos desencarnados, o que já aconteceu inúmeras vezes, principalmente com artistas, poetas e homens geniais, como também por motivações diversas, tais como uma paisagem, um quadro, o deslumbramento de um espetáculo como o da Foz de Iguaçu, a melodia de uma canção, etc., etc. Tudo isso, em seu momento, pode dar inspiração como ainda provocar reações especiais.

Contaram-me, por exemplo, que um crítico literário (já desencarnado), ao analisar um livro com o propósito de arrasá-lo, ouviu certa música e ficou tão embevecido, que terminou alternando o tom ferrenho da crítica e dando outra feição, mais amena, aos seus comentários.

Há ocasiões em que a natureza nos fascina de tal forma que chegamos a nos sentir fora do corpo, pois a nossa sensibilidade se eleva instantaneamente acima de todas as contenções da matéria. Lembro-me do que ocorreu comigo, em viagem de Belém do Pará a Manaus, faz algum tempo… Ao contemplar, do avião, a imensa e deslumbrante paisagem amazônica, confesso que fiquei a bem dizer fora de mim. Pouco depois, ao levantar voo em Santarém, à tarde, o avião começou a sobrevoar um trecho impressionante, justamente no chamado ponto das águas trançadas, onde se avista o Rio Solimões. Estava entardecendo… Senti-me tão emocionado, tão absorvido pela paisagem, diante de um espetáculo que eu jamais contemplara em minha vida — o pôr do sol sobre as águas e florestas na região amazônica — que cheguei a fazer uma prece de contentamento como se estivesse extasiado, perante tanta beleza natural, e falei assim, intimamente:

— Meu Deus, como é bela a Tua criação!…

A vida nos mostra muita coisa triste e horrenda, mas precisamos ver o outro lado, exatamente aquilo em que a natureza nos revela a beleza e a bondade, muitas vezes espontaneamente. Tudo isto parece divagação, mas não o é, não!… Quero chegar precisamente ao ponto de partida: influências inesperadas em nosso procedimento, ora pela ação sutil de espíritos, ora pela beleza de quadros naturais ou pela repercussão de músicas que se adaptem ao nosso tipo de sensibilidade.

Se a nossa sensibilidade pode ser influenciada por motivações naturais, na planície, no mar, na serra, no jardim, etc., muito mais aptidão tem ela para ser influenciada pelo mundo espiritual. Não é necessário que todos tenham mediunidade no sentido ostensivo. Nem é preciso que também todos “recebam” espíritos, como se costuma dizer. Muitas e muitas vezes, os espíritos estão ao nosso lado e nós não os percebemos… No entanto, absorvemos muitas ideias que nos levam a tomar nova direção. Eles sopram onde querem.

As influências do Alto, como se sabe, podem ser benéficas ou maléficas. Precisamos, pois, manter boas condições íntimas, para que eles, os espíritos desencarnados, encontrem em nós instrumentos dóceis, e, pelas suas interferências instantâneas, nos infundam energias e nos tragam sugestões capazes de modificar certos propósitos.

A presença de entidades amigas nos permite captar conselhos e advertências verdadeiramente providenciais, como no caso daquele conhecido meu, que sentiu, sem sombra de dúvida, a recomendação do espírito de sua própria mãe, aconselhando-o a não ser tão inflexível no que estava escrevendo. Daí, o acerto do velho ditado popular — somos cada vez mais vigiados pelo mundo espiritual.

Deolindo Amorim, do livro:   – Ponderações Doutrinárias

(Coletânea de artigos publicados por Deolindo Amorim, em diversos jornais e revistas espíritas do Brasil e do Exterior) (Livro organizado por Celso Martin)

Fonte: Espiritismo na Rede

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