A Tarefa de Cada Um

Antonio Leite

Editor GEAE

Há um momento em nossas vidas em que todos nós nos rendemos ao inevitável apelo para o autoconhecimento. Enquanto isto não acontece, passamos pela vida como que anestesiados e insensíveis à realidade de nós mesmos, agindo e reagindo ao sabor dos ditames impostos pela sociedade em que vivemos.

A partir do ponto em que nos rendemos ao clamor íntimo do auto descobrimento, iniciamos uma verdadeira cruzada na tentativa de obter respostas às questões relacionadas com o velho dilema do “Conhece-te a ti mesmo”. Começamos então a questionar a nossa própria realidade existencial, a origem da vida, a razão de estarmos aqui nesta existência, o porquê das experiências ou relacionamentos a que somos expostos, e até alvoramo-nos no direito de questionar o acerto da decisão Daquele que nos criou e nos colocou nessas circunstâncias.

No extraordinário livro Memórias do Padre Germano encontramos um ilustrativo exemplo desse dilema que ainda é uma característica da avassaladora maioria dos espíritos encarnados no planeta terra, haja visto o baixo nível evolutivo dos seus habitantes. Através da maravilhosa obra de Amalia Domingo Soler, o padre Germano nos relata o dilema que viveu em uma das suas encarnações aqui em nosso orbe, na qual experimentou, como membro da igreja de Roma, a permanente e asfixiante sensação de viver se sentindo com um peixe fora d’água, especialmente ao desempenhar a espinhosa função eclesiástica de confessor. Em momento de inquietação angustiante, ele assim se manifesta:

“Amado Deus, por que tive eu que nascer nas fileiras desta ordem religiosa? Por que Você me obrigou a ser guia dessas pobres ovelhas, meus paroquianos, se eu não posso tão pouco guiar a mim mesmo? Senhor, deve haver outras moradas no espaço, porque aqui neste planeta uma alma capaz de pensar fica asfixiada ao presenciar tanta miséria e hipocrisia. Eu desejo seguir o caminho certo, mas ao longo da jornada eu vejo tantas armadilhas!”

O exemplo é mesmo bem ilustrativo, mas cabe ressaltar que ao folhearmos as páginas deste excepcional livrinho, temos a convicção de que o padre Germano era um espírito em estágio evolutivo bem acima da maioria de todos nós e que cumpriu a sua missão naquela existência de forma exemplar, podendo mesmo servir de guia e modelo para todos nós que aspiramos passar pelos embates da vida e cumprirmos com a nossas tarefas onde quer que a vida nos coloque.

A Doutrina dos Espíritos veio para nos dar as respostas àquelas questões existenciais e acima de tudo para nos mostrar com uma clareza insofismável, as razões e os porquês de estarmos aqui e expostos às experiências e aos relacionamentos que temos vivenciado nesta encarnação. É bem verdade que ela só nos dá as respostas de que necessitamos para cumprirmos com a nossa tarefa de espíritos encarnados e galgar alguns degraus a mais na nossa escala evolutiva rumo a felicidade. Mas o que é mais importante e digno da atenção de todos nós que aspiramos sincera e honestamente por um mundo de Paz e Harmonia, enfim, um mundo regenerado, é que além das respostas que obtemos através da mensagem dos espíritos, existe nesta mesma mensagem um apelo claro ao nosso senso de responsabilidade perante a Lei de Causa e Efeito. A esta sim, teremos que nos curvar, pois somente o respeito e a adesão incondicional às suas diretrizes propiciarão o advento de um mundo de Paz e Harmonia para todos nós.

Assim, que tenhamos ouvidos para ouvir e olhos para enxergar e adotemos em nossas vidas a máxima insculpida na Doutrina dos Espíritos que nos diz: “Fora da caridade não há salvação”.

Editorial do Boletim GEAE – Grupo de Estudos Avançados Espíritas – Ano 13 – Número 493 – 2005 reproduzido com autorização do autor

Esta entrada foi publicada em Artigos, Espiritismo. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário