A Pedagogia da crença
Carmen Imbassahy
A Pedagogia nos diz que para uma boa aprendizagem é preciso que se tenha também um bom método de educação, por isso, torna-se necessário uma didática de ensino dentro da lógica e da razão.
Todavia, no que tange à educação religiosa, a Pedagogia deixa muito que desejar, a partir do dogma: O que não se pode discutir, aceita-se como verdade.
Foi uma médica, Maria de Montessori, italiana de Chiaravale que, no início do século XX, tratando de crianças excepcionais à época, idealizou um método de Pedagogia que, posteriormente foi utilizado para a educação de um modo geral: a Pedagogia científica.
Sem dúvida, as religiões têm que se opor a tal método quando se trata dos assuntos divinos e, infelizmente, ainda, os próprios religiosos preferem se deixar levar pelas teses da salvação para alçar a um mundo melhor ao lado de Deus, do que analisar a vida como de fato ela seja.
O cristão julga que Jesus sofreu na cruz para redimi-lo de suas culpas, e que, assim bastará aceitá-lo para se livrar dos erros cometidos.
Porém se foi o próprio Jesus quem teria dito “Assim como fizeres, assim acharás” como, então, ele iria ressarcir das conseqüências de seus atos os seus seguidores?
Aí é que a Pedagogia, racional, entra para destruir a razão apresentada: afinal, se ele Jesus, resgatasse da lei de causa e efeito os seus adeptos, então, por que, proferiria tal frase? Não seria mais justo dizer que quem o seguisse estaria salvo? Sim, mas salvo de quê?
No meio espírita surgiram novas interpretações alheias à codificação elaborada por A. Kardec, expondo uma nova linha evangélica de doutrina onde a Pedagogia também não tem vez, afinal, a lógica deixa de imperar para se impor a crença.
Até mesmo, pasma, fico a ver certos pregadores que se dizem espíritas chamarem Deus de “Criador”, evidentemente, baseados nos evangelhos ou na crença da Igreja de que Deus tenha tirado do nada, a seu bel prazer, os elementos para fazer a Terra como centro do Universo.
Erro duplo, ou então, o pobre do Antoine Laurente de Lavoisier, em fins do séc. XVIII, guilhotinado, praticamente, por dizer que “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” jamais poderia ser levado a sério. Mas é lei química e, de acordo com a Pedagogia moderna, temos que analisá-la para definir a verdade do que se deva ensinar.
Bem fez A. Kardec em classificar Deus como causa primária e nunca, como criador embora os evangélicos do movimento espírita brasileiro insistam em contrariar o codificador e impingir, a duras penas, a verdade bíblica da Criação divina.
Aí, entra a lógica que indaga: e de onde Deus teria tirado a essência de tudo para formar o Universo? Se veio do nada, o nada existe. Entretanto, são os próprios defensores da Criação Divina que garantem que o nada não existe.
O que ocorre é que, no que tange à dita crença, o que se vê com o nome de Cristianismo, inicialmente, nada mais é do que a hipótese do velho Torah, de que, de repente, Deus, o Supremo e inexplicado Senhor da Vontade, resolveu criar a Terra e nela colocar os homens, só que, como tal, ela seria o centro do universo. Ora, nada disso é verdadeiro, então, como pedagogicamente, admitir que se possa ensinar tal coisa?
A Crença foge à razão.
Querer usar uma Pedagogia educativa para ensinar preceitos religiosos que não tenham apoio senão no dogma e na fé, não irá encontrar amparo em nenhuma técnica racional para impor aquilo que, por si só se contrapõe ao conhecimento humano.
Ainda hoje, teimam os evangélicos em afirmar que Deus criou Lúcifer como anjo de luz, e que este teria se rebelado contra seu criador. Peca duplamente tal assertiva: primeiro porque, Deus, supremo, onipotente não teria sabido criar seu dileto e amado anjo de luz; porque não o teria feito perfeito para amá-Lo como supremo criador? Segundo, onisciente, como não previu, que este iria se rebelar contra Ele.
E assim, justificam a existência do mal, o que, no caso, irá aprovar que Deus não seria o supremo criador porque também Lúcifer teria capacidade de criar, mesmo sendo o mal, ato portanto contrário aos desígnios superiores de um Deus de suprema bondade.
Pasmam-se, pois, os estudantes de Pedagogia quando tomam conhecimento de que o ensino do dogma religioso, seria uma forma de aplicar sua técnica educativa para ensinar coisas erradas ou fictícias
A Pedagogia não admite contradições.
Carmen Imbassahy
Fonte: http://www.aeradoespirito.net/ArtigosCI/A_PEDAGOGIA_DA_CRENCA_CI.html