Kevin Nelson, autor do livro The Spiritual Doorway in the Brain – a “Neurologist’s Search for the God Experience” explicou ao portal de “VEJA” o que acontece no cérebro de quem, na iminência da morte, relata ter antevisto o Além. “A ciência define essas experiências de quase morte como resultado da diminuição do fluxo sanguíneo no cérebro, o que provoca alterações momentâneas na mente, e os estados de consciência podem se misturar, provocando reações como paralisia e alucinações,” (1) segundo o cientista americano.
Nelson diz que “a ciência pode dizer como o cérebro funciona, mas não pode dizer por que ele funciona desse jeito. Mesmo se soubéssemos o que faz cada molécula cerebral durante uma experiência de quase morte, ou qualquer outra experiência, o mistério da espiritualidade continuaria existindo.” (2) Kevin crê que a neurociência da espiritualidade ainda está nos seus primórdios e que descobertas futuras muito empolgantes estão por vir. Infelizmente, “muitos neurologistas tendem a não se interessar por experiências subjetivas. Eles estão muito mais interessados em olhar para as células em um microscópio.” (3)O assunto tem despertado interesses cada vez mais vigorosos. Há três décadas, o psiquiatra norte-americano, Raymond Moody Jr. trouxe ao conhecimento do grande público uma coletânea de re latos de EQM – experiência de quase morte (4), através do livro “Life after Life”(5). Os pacientes trazem todos os sintomas de morte clínica. As vítimas flutuam sobre o seu corpo físico, acompanham os acontecimentos e percebem que possuem outro corpo, e que sua consciência acompanha este novo corpo, de natureza extrafísica.Pacientes encontram-se com seus familiares e amigos já falecidos, com imensa alegria. Todos lhe dizem das tarefas desenvolvidas no mundo espiritual, da necessidade de continuar trabalhando, evoluindo e estudando, que os laços familiares não se rompem, pelo contrário, se fortalecem através do amor e do perdão. Nesse momento, não importam as facilidades materiais, a riqueza, o poder, as posições sociais; interessa apenas o bem e o conhecimento que existe em cada pessoa, independente de suas crenças religiosas ou filosóficas. As EQM’s sempre ocorreram, sobretudo em épocas remotas, quando os fenômenos de catalepsia dificilme nte conseguiam ser diagnosticados. A técnica de constatação do óbito era muito empírica, quase sempre através da respiração e das frequências cardíacas, via pulsos, jugulares etc.Atualmente, através dos eletroencefalógrafos, pode-se assinalar com maior precisão o instante da paragem cardíaca definitiva e da morte real. No entanto, mesmo nesses casos, estudados por Edith Fiore, Elizabeth Kubler-Ross ou Raymond Moody Jr, há sempre o retorno à atividade do coração e consequentemente do cérebro, oferecendo evidências de que no momento da aparente morte da consciência, o ser consciente continua pensando. Para os materialistas não existe, óbvio!, a vida além-túmulo. “Alguns cientistas da clínica universitária Rudolfo Virchow, de Berlim, tentam desmistificar a EQM. Descobriram uma nítida vinculação entre as alucinações de síncope e as EQM e verificaram a “exatidão das suas intuições e hipóteses” com um grupo de 42 (quarenta e duas ) pessoas “jovens e sadias”. As cobaias humanas foram privadas de todos os sentidos por tempo máximo de 22 segundos. Ao recobrarem os sentidos, relataram experiências muito similares aos dos fenômenos de quase morte”(6). O assunto também vem sendo estudado pelos norte-americanos desde 1977, quando foi fundada nos EUA a Associação para o Estudo Científico dos Fenômenos de Morte Iminente.Para os pesquisadores engessados no materialismo, as alucinações são causadas por problemas de ordens variadas seja, farmacológica, fisiológica, neurológica e psicológica. Aliás, sobre a explicação psicológica para a EQM como uma síndrome determinada pelo medo da morte cai quando observamos que crianças que não têm esses medos e não têm ainda um conhecimento cultural sobre a morte, vivem experiências semelhantes aos adultos. É interessante col ocar que as pessoas descrevem suas experiências como algo vívido e real e que marcaram suas vidas para sempre, e não simplesmente uma reação passageira a uma situação estressante.No ano de 1985, Divaldo Franco teve uma lipotímia.(7) Estava proferindo uma conferência na Associação Espírita, em Salvador (Brasil), quando um espírito muito amigo lhe disse para sair dali porque ia desmaiar e era provável que desencarnasse. Pareceu-lhe anedótico. Divaldo terminou a palestra e dirigiu-se a uma das salas da Associação. No momento em que se acercava de um divã, teve uma estranha sensação de paragem cardíaca; a princípio, a lipotímia, e depois a paragem cardíaca, e sentiu-se fora do corpo. Então, médicos que estavam presentes na reunião acorreram para lhe dar assistência. Curiosamente, o tribuno baiano disse que naquele estado sentia um grande bem-estar. Viu-se fora do co rpo e recordou-se de uma afirmação de Joanna de Ângelis – de que no dia em que perdesse a consciência e a visse, haveria acontecido o fenômeno biológico da morte. Narra Divaldo o seguinte: “eu olhei à minha volta e não a vi [Joanna]. Vi então a minha mãe (já falecida) que se aproximou de mim. Perguntei-lhe: “Mãe, eu já morri?” e ela disse-me: “Ainda não”. Dentro de alguns minutos eu comecei a preocupar-me, pois se passasse muito tempo poderia ter morte cerebral e ficar apenas em vida vegetativa. Mas minha mãe voltou e disse-me: “Seus amigos espirituais dão-te uma moratória, tu viverás um pouco mais.” E eu perguntei-lhe: “Quanto tempo?” Ela respondeu-me: “Não sei”. Então voltei ao corpo e recuperei a consciência no corpo físico.”(8)
Para o espírita não existe a morte, pois o Espírito é imortal e sobrevive à decomposição do corpo físico. A morte (ou desencarnação) apenas é um estágio final de um processo evolutivo nesta vida física. Só o corpo morre. Kardec estudou esse envoltório espiritual e denominou-o de perispírito, que tem sido estudado por vários especialistas. Porém, por falta de instrumentos e equipamentos de laboratório, ainda estamos muito longe de conhecer a sua estrutura de funcionamento do psicossoma.
O professor Rivail refere-se ao desdobramento ou às chamadas viagens astrais (segundo algumas definições espiritualistas) como o perispírito se desprendendo do corpo, como no sono, no transe hipnótico, desmaios, coma etc. Nesse processo, o perispírito pode atravessar paredes e outros obstáculos materiais e muitas vezes ocorrem fenômenos conhecidos como bilocação, bicorporeidade, exteriorização do dupl o etc. A saída do perispírito do corpo é atualmente cientificamente comprovada. Nos Estados Unidos se usa a sigla OBES, ou seja, out of body experience (experiência fora do corpo). O Dr Gleen Gabbard, psiquiatra da Faculdade de Psiquiatria Menninger. no Estado do Kansas, conta em uma de suas anotações que um homem desdobrado assistiu a uma reunião de pessoas que queriam matá-lo. e graças a isso conseguiu mudar de rota no retorno à casa e surpreendeu os seus perseguidores mandando comunicar os detalhes do plano à polícia e escapou ileso.
A imortalidade já é a Lei da Vida, proclamam os Benfeitores espirituais. Entretanto, obviamente devemos acompanhar atentamente o debate dos cientistas contemporâneos a respeito do tema EQM. Em nossos dias, várias escolas, como a psicologia transpessoal, baseam-se em experiências transcendentais e se pautam no argumento da imortalidade. São vários profissionais da área de saúde mental que publicam livros relatando experiências de morte provisória. Há, sem dúvida, atualmente, um movimento universal buscando uma interpretação global do homem. Os ventos das revelações espíritas sopram firmes e fortes, e os laboratórios científicos da academia humana passam a considerar a possibilidade do ser imortal.
Jorge Hessen
Referências Bibliográficas:
(1) Kevin Nelson, neurocientista americano, autor do livro The Spiritual Doorway in the Brain – a Neurologist’s Search for the God Experience , disponível no site http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/a-ciencia-da-espiritualidade, acesso em 11-02-11
(2) Idem
(3) Idem
(4) O termo “Experiências de Quase-Morte” (EQM) , tradução de “Near-death experienc es”, cunhado pelo psiquiatra americano Raymond Moody Jr., surgiu com a publicação de seu livro “A Vida Depois da Vida”, em 1975 (Butterfly Editora).
(5) Moody Raymond. Life After Life, Inglaterra: Ed. Ebury Press, 2001
(6) Publicado no jornal Correio Braziliense edição de 20/09/94
(7) Perda mais ou menos completa do conhecimento acompanhada da abolição das funções motrizes, com integral conservação das funções respiratória e circulatória. A lipotimia se constitui no primeiro grau de síncope: é acompanhada de palidez, suores frios, vertigens, zumbidos nos ouvidos: a pessoa tem a impressão angustiante de que vai desmaiar, mas, de fato, raramente, perderá o conhecimento. O fênomeno pode ser causado por emoção violenta, por súbita modificação da posição deitada para a posição vertical, ou por toda circunstância análoga, susceptível de alterar a circulação. A lipotimia usualmente não é grave e deve ser procurada assistência posterior para averiguação de eventual existência de doença normal desencadeante.