17 de maio – Dia Internacional contra a Homofobia
Entrevista com o médico Dr. Andrei Moreira, homeopata, escritor e presidente da Associação Médico-Espírita de Minas Gerias (Amemg) autor do livro Homossexualidade Sob a Ótica do Espírito Imortal ao jornal A Voz do Paraná.
No livro “No Mundo Maior”, de Chico Xavier ditado pelo espírito Emmanuel, trás para nós que “se a psicologia analítica de Freud e de seus colaboradores avançou muito no campo da investigação e do conhecimento, resolvendo, em parte, certos enigmas do psiquismo humano, falta-lhe, no entanto, a chave da reencarnação para solucionar integralmente as questões da alma. Impossível é resolver o assunto em caráter de definitivo, sem as noções de evolução, aperfeiçoamento, responsabilidade, reparação e eternidade. Não vale descobrir complexos e frustrações, identificar lesões psíquicas e deficiências mentais, sem as remediar. Em suma, não satisfaz o simples exame da casca, e continua: é essencial atingir o cerne e determinar modificações nas causas. Para isso é imprescindível confessar a realidade do reencarnacionismo e da imortalidade”.
Para compreender um pouco mais sobre esse universo ainda desconhecido à muitos, a seguir, confira uma entrevista com Dr. Andrei Moreira sobre homossexualidade na ótica do espírito imortal:
Nós fomos criados para sermos heterossexuais ou homossexuais?
Andrei Moreira – Nós fomos criados para sermos seres humanos, podendo ser hetero, homo, bi, transexual, travesti, e ainda várias outras definições que hoje a ciência classifica, porque tudo isso são experiências, campos de experimentação e de expressão da sexualidade humana.
Quem pode ser considerado um homossexual? Tem como sentir atração pela pessoa do mesmo sexo sem ser homossexual?
Andrei – A homossexualidade se caracteriza pela atração afetiva sexual e não pelo ato sexual. Muitos homossexuais passam a vida inteira sem ter ato sexual, muitos vão reprimir esta orientação canalizando para outras coisas, como por exemplo, aqueles que estejam em ordens monásticas, ou em ambientes repressivos onde a expressão da sexualidade não é permitida. Não é a pratica que caracteriza a homossexualidade e sim a atração.
Temos uma visão espírita a respeito da homossexualidade?
Andrei – Nenhum de nós pode se arvorar no direito de dizer que tem a visão espírita a respeito desse assunto. A visão espírita, diz Allan Kardec, é formada pela concordância universal dos ensinos, dos postulados, e ele explica isso na introdução do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo. No entanto esse é um dos temas que está inconcluso, ou seja, se nós pesquisarmos na literatura espírita, nós vamos ver distintas abordagens, todas elas respeitadas, porque eu quero crer que todos os autores que expressam ideias a respeito desse tema, estão incluídos no sincero movimento de auxilio ao ser humano, ainda que cada um de nós com a sua compreensão. O conhecimento espírita não é dado pela opinião de uma pessoa, nem pela opinião de um espírito. A opinião espírita se constrói baseada no raciocínio, na reflexão, no entendimento, bom senso, fidelidade aos postulados fundamentais da doutrina espírita e ao Evangelho, porque sem isso não tem espiritismo. Quando fui publicar essa obra, escrita por mim, mas com muito auxilio espiritual, foi analisada por toda a Associação Medico Espírita de Minas Gerais e leva o selo de toda a associação, e nós elegemos o titulo “Homossexualidade Sob a ótica do Espírito Imortal”, quer dizer, nós estamos analisando a sexualidade e a diversidade sexual, sob a perspectiva da imortalidade da alma, e qual a analise que utilizamos? A da doutrina espírita.
Qual é a visão que o senhor fala no livro?
Andrei – A que apresentamos em nosso livro é aquela visão, fruto da aliança entre ciência e Espiritismo. À luz da reencarnação nós compreendemos que o espírito não tem sexo e sim essência, ele é assexuado no sentido de não ter um sexo biológico, é portador da energia sexual que acompanha o espírito durante toda a evolução, mas essa energia não é necessariamente polarizada, ela se polariza na encarnação em que o indivíduo reencarna-se ora como homem, ora como mulher, e isso faz com que todos nós que já passamos por milênios de evolução reencanatória, já tenhamos tido um grande número de experiência tanto na masculinidade e também na feminilidade, e isso sedimenta o fenômeno da bissexualidade em todos nós, porque temos o registro dos dois polos dentro de nós.
Ser homossexual tem nada a ver com a moralidade ou não?
Andrei – O fato de ser homossexual ou heterossexual não. Porque é só uma classificação da atração do afeto e do desejo, quando se diz que uma pessoa é homossexual, a única coisa que se está falando sobre indivíduo é que ele se atrai por alguém do mesmo sexo, pois não está classificando caráter, nem comportamento.
O espírito quando está para reencarnar ele pode escolher o seu sexo?
Andrei – Pode escolher ou não. Pode ser uma escolha do indivíduo, pode ser um efeito natural dos movimentos encarnatórios e afetivos, pode ser uma imposição da lei divina, pode surgir dentro de uma encarnação sem nenhum planejamento, porque essa expressão do desejo e do afeto ela é fluida, se modifica e se movimenta ao sabor das circunstâncias, de acordo com aquilo que o indivíduo vive.
Isso tudo para o aprendizado do espírito?
Andrei – Se falarmos que seria tudo para o espírito aprender, é como se tivesse um objetivo pré-traçado para tudo, e não há. Há um objetivo pré-traçado para boa parte das coisas, mas a grande maioria são construções nossas. O indivíduo pode escolher uma encarnação como homossexual com a finalidade de progresso, de aprendizado, de construção afetiva, de crescimento interior até mesmo nas provas de dificuldade, na reeducação do afeto e do respeito a si mesmo, mas isso também pode aparecer ao longo de uma vida sem nenhum planejamento e sem nenhuma intenção da vida em promover aquilo. A energia sexual é sempre criativa e criadora, independente do campo de expressão dela, e o objetivo é sempre a construção do belo e do bem. O espírito está sempre destinado a uma finalidade superior divina e a uma realização afetiva e isso significa amar e ser amado, se o espírito canaliza suas experiências e vivencias independente do campo em que ela se expressa, naturalmente teremos aí progresso e evolução, mas se o indivíduo se compromete afetivamente gerando lesões afetivas em si mesmo e no outro e se comprometendo, naturalmente responderá por isso.
Há casos em que a homossexualidade pode se tornar uma reencarnação expiatória?
Andrei – Só como expiação eu não acredito, mas uma boa parte das experiências homossexuais tem expiação dentro do seu processo, porque se você tem ali um componente de reeducação afetiva e se o indivíduo passa por uma fase de homofobia, de grande preconceito social, de luta com a família, há naturalmente um sofrimento em relação a isso, como também as circunstâncias ocorrem na heterossexualidade, apenas são contextos distintos. A encarnação sempre tem objetivo educativo, e expiação é consequência, não é objetivo.
A Terra também está recebendo muitos espíritos de ordem elevada, como o senhor acredita que ficará a sexualidade desses espíritos que reencarnarão na Terra?
Andrei – Nós estamos caminhando para um mundo de regeneração e esse mundo é regido pela presença e o esforço pelo amor, então nós acreditamos que daqui para frente teremos progressivamente mais espaço de educação sexual, de respeito, de inclusão e amorosidade, porque vivemos época de grande desrespeito afetivo e banalização do sexo e do afeto, as pessoas fogem de sí mesmas na hipertrofia dos prazeres sexuais vivendo apenas a vida sensual de prazeres físicos, sem se dar conta da grandeza da imortalidade da vida, das consequências morais dos seus atos e da sequencia da vida após morte. Com essa consciência se tornando mais natural que ocorrerá no mundo de regeneração, os indivíduos se tornarão mais conscienciosos, responsáveis e equilibrados em matéria sexual, mas isso estamos falando de uma evolução bem lenta, não vai se dar da noite para o dia.
Qual a visão espírita dos transexuais, ou seja, aqueles que transformam o seu corpo físico? Existe alguma consequência?
Andrei – Boa pergunta, também queria saber…se não tem uma visão a respeito da homossexualidade que seja consensual, da transexualidade menos ainda, porque há muita confusão. Posso dizer que o homossexual não tem nenhum conflito de identidade, ele se olha no espelho e ainda se sente homem, mesmo que seja ele afeminado, e a mulher se olha no espelho sente-se mulher, não tem desejo de ser do sexo oposto, mesmo que ainda tenha muitas brincadeiras relativas a isso dentro do meio e cultura homossexual. Já o transexual não, ele tem um grande sofrimento, se ele está num corpo feminino se sente masculino e vice-versa, há um sofrimento tão grande que ele chega a se mutilar quando não consegue a cirurgia para mudança de sexo ou tenta o suicídio, e isso é muito frequente, de tal maneira que o Conselho Federal de Medicina considera a cirurgia de redesignação sexual uma cirurgia curativa e hoje no Brasil ela pode ser realizada pelo SUS.
É uma prova para o indivíduo?
Andrei – O transexual vivencia uma circunstância de prova obrigatória, porque a condição é de sofrimento desde a encarnação, independente do contexto social, porque ele já se sente no sexo oposto aquele que está reencarnado, então temos um contexto reeducativo, forte e que pode ter sido solicitado pelo indivíduo, imposto pela vida ou varias circunstâncias distintas. Agora, o entendimento disso num nível mais profundo para além das definições superficiais, também está para ser feita dentro do movimento espírita, porque nós temos muitas visões preconceituosas a esse respeito.
Agora falando dos jovens, hoje em dia o senhor acredita que há modismo nos seus relacionamentos?
Andrei – Sim. Nesse momento no nosso país está sendo moda o relacionamento entre mulheres, onde as meninas começam a brincar de namorar e acabam namorando, começam a ter relacionamento, e muitas dessas que eu tive a oportunidade de conversar e atender em consultório, eu vi que não há uma estrutura da orientação sexual definida. Se nós temos o jovem vivendo um relacionamento por moda, ou para ser moderno, ou para fazer parte de um grupo, para ser social e aceito, nós temos ai um comportamento contestador de adolescentes, que deve ser tratado como qualquer comportamento de contestação, e pais precisam dar um suporte psicológico para que o indivíduo tome consciência do que pode representar aquela experiência. Vejam então que as situações podem ser variadas.
Jornal A Voz do Paraná – Um jovem de 12 anos que teve uma brincadeira homossexual, isso é indício de homossexualidade?
Andrei – Não. A psicologia nos diz que no inicio da adolescência os adolescentes se atraem uns pelos outros, mas fica o clube da Luluzinha e o clube do Bolinha, tem atração, mas tem medo e vergonha do envolvimento. É a mesma época em que a glândula pineal desperta a sexualidade do adolescente, então tem o começo das experimentações, das brincadeiras e isso geralmente acontece com indivíduos do mesmo sexo. Isso é visto pela psicologia como experimentação, não necessariamente um definidor da orientação sexual do indivíduo. Então esse jovem de 12 anos que viveu uma brincadeira homossexual, ele pode estar na busca da orientação e descoberta da sexualidade naquela fase em que os jovens retraídos só convivem com seres do mesmo gênero.
Como o senhor vê a homossexualidade como resultado de uma experiência de abuso?
Andrei – O abuso sexual vai sempre gerar sintomas até que o indivíduo olhe para ele, trabalhe, resolva e equacione aquela coisa. A partir de um núcleo de abuso sexual você pode ter desejos heterossexuais modificados ou desejos e atrações homossexuais também; se o abuso foi por pessoas do mesmo sexo, ou se tinha ali um núcleo traumático dentro do indivíduo relacionado aquilo, e quando acontece da experiência ou a vivencia homossexual ser sintoma desse abuso, é sintoma e não orientação muitas vezes definida, e muitas vezes quando o indivíduo resolve aquele núcleo afetivo, aquilo pode modificar ou não, podendo seguir de uma forma equilibrada. Por exemplo, se o indivíduo já tinha mesmo uma orientação ou pré disposição majoritária homossexual e tem o abuso, ele pode buscar relação homossexual abusiva aonde só seja desrespeitado, porque o que acontece com o quem é abusado se não tratar o abuso acaba se tornando o abusador ou com uma tendência a compulsão pela repetição, porque é uma tendência autodestrutiva compulsiva de repetição que a psicologia mostra que acontece e só a psicoterapia para ajudar. Dai acaba buscando só relação sexualizada em que se sente um lixo, em pessoas que a tratem como um objeto desprezível.
O Brasil é um país hospitaleiro, mas por outro lado é o país campeão com o maior índice de crimes contra homossexuais. Por que essa diferença tão grande?
Andrei – Parece mesmo um contrassenso, um Estado democrático de direito e de fato, com o maior índice de violência contra homossexuais. Porque nós temos fortemente arraigado na nossa cultura um pensamento machista, o discurso religioso que durante muito tempo se agregou qualquer expressão que não fosse aquela da heterossexualidade dentro de um matrimônio para fins reprodutivos, e a dificuldade do ser humano de lidar com o seu desejo, com o seu afeto e multiplicidades de expressões da energia sexual.
Uma mensagem…
Andrei – Uma vez chegou uma mãe e disse aflita que seu filho havia-lhe confidenciado que era homossexual, ela estava sofrendo muito e precisava de uma orientação, então os espíritos trouxeram a ela uma orientação e foi a seguinte: “Minha filha, a situação e a dor que você está vivendo se olhada isoladamente é amarga como fermento, mas no contexto do bolo é o fermento que dá o crescimento, não olhe somente para a sua dor, olhe para aquilo que é possível ser construída a partir dela, e então você perceberá que a situação que agora desafia você e seu núcleo familiar é a situação que vocês escolheram antes de encarnar, para expandir a consciência do amor”. Então olhamos para a situação encarnatória e vemos que aonde há a presença do amor, há a presença de Deus, e homossexualidade e a heterossexualidade se perdem, pois são características da reencarnação, não importa para o espírito se ele aprendeu a amar pela via da heterossexualidade ou homossexualidade, ele simplesmente aprendeu a amar. Jung diz que ao estarmos diante da presença do amor, estamos diante de um Deus, e ai não nos cabe julga e sim nos curvar.
Fonte: Jornal A voz do Paraná