Autoconhecimento: conquista vital

Anselmo Ferreira Vasconcelos

Há frases que contêm extraordinária sabedoria. Ao proferi-las seus autores são certamente inspirados pelas potestades, e, quando bem compreendidas, nos ajudam a assimilar novos elementos que contribuem para o desenvolvimento da nossa maioridade espiritual. Nesse sentido, atribui-se ao filósofo Sócrates a autoria da máxima: “Conhece-te a ti mesmo”. A recomendação – seja dele ou não – é assaz pertinente, já que há no mundo milhões de criaturas que não se conhecem verdadeiramente.

Em razão disso, vivem existências empobrecidas do ponto de vista espiritual e sem significativas conquistas interiores, porque simplesmente não conseguem perceber a imensa bênção que é viver neste plano para progredirem como seres cósmicos. Geralmente, são indivíduos que prestam muita atenção às questões materiais, assim como dão considerável espaço à satisfação dos prazeres. No entanto, pouco ou quase nada focam no que lhes reside no íntimo (especialmente de ruim ou reprovável) e o que são capazes de fazer em se tratando de prejudicar os outros diante de uma contrariedade ou revés.

Não seria exagero afirmar que são indivíduos que não se examinam, não se interrogam, não se enfrentam, enfim. Assim sendo, desconhecem, quase que por completo, o que se encontra no âmago das suas almas, talvez porque receiem descobrir e/ou aceitar que abrigam péssimas inclinações e tendências. Desse modo errático, portanto, evitam se autoconhecer – passo vital para a sua melhoria ou cura interior.

O autoconhecimento é um recurso altamente valioso, pois constitui “a chave do progresso individual”, como declarou Santo Agostinho no Livro dos Espíritos (questão 919-a). Dito de outra forma, ninguém desenvolve a sua própria luz sem ter exato entendimento dos pontos mais fracos e vulneráveis da sua personalidade e caráter. Portanto, identificá-los requer extremo esforço, já que tendemos a aplicar a autodesculpa quando nossas fragilidades são expostas. De qualquer maneira, o autoconhecimento é a ferramenta imprescindível para que tenhamos uma existência espiritualmente exitosa.

Nesse sentido, ao adotar o caminho da regeneração, é certo que haveremos descobrir aspectos altamente desconfortáveis no decorrer do processo tais como: pensamentos malignos e viciosos, emoções nada edificantes, atitudes malsãs, reações destrambelhadas, entre outras tantas coisas negativas. Em suma, o exercício do autoconhecimento nos ajuda a descortinar todo o mal e impurezas que dormitam em nosso interior. Como esforço de cunho moral, cabe destacar, nos ajuda também a conquistar o autoaperfeiçoamento por meio de uma cognição mais apurada sobre nós mesmos. Em outras palavras, com bem ensinou Santo Agostinho, “Examinai o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado.”

De forma análoga, salienta Allan Kardec,

“Os Espíritos protetores nos ajudam com seus conselhos, mediante a voz da consciência [que não raro bloqueamos], que fazem ressoar em nosso íntimo. Como, porém, nem sempre ligamos a isso a devida importância, outros conselhos mais diretos eles nos dão, servindo-se das pessoas que nos cercam. Examine cada um as diversas circunstâncias felizes ou infelizes de sua vida e verá que em muitas ocasiões recebeu conselhos de que se não aproveitou e que lhe teriam poupado muitos desgostos, se os houvera escutado.”

Desse modo, ainda segundo o Codificador do Espiritismo, “Muitas faltas que cometemos nos passam despercebidas”. Isso ocorre porque não somos suficientemente críticos conosco na maioria das vezes. Ou seja, fazemos coisas absurdas e tomamos decisões sem a devida consideração de ordem ético-moral que, essencialmente, sempre nos dá a dimensão do certo e do justo. Em assim nos conduzindo, não medimos o impacto das nossas ações nos outros, bem como negligenciamos a noção do bem que, a rigor, deveria nos inspirar em todas as deliberações da vida. Aliás, “O bem deve ser a flor e a fruto que o Céu nos pede”, como formulou o Apóstolo Estêvão (ver a obra Paulo e Estevão, ditada pelo Espírito Emmanuel e psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier). Portanto, o autoconhecimento leva à ponderação e aos raciocínios mais elevados, ensejando mudanças profícuas na esfera interior.

Às vezes, o indivíduo identifica algo grave nos recessos da sua alma, mas não trabalha com determinação para a obtenção da própria cura. Esse deve ser o caso, por exemplo, da enfermeira inglesa Lucy Letby, de 33 anos, que atacou 13 bebês matando 7 no Countess of Chester Hospital, principal unidade de saúde da cidade de Chester, na Inglaterra, entre 2015 e 2016. As investigações revelaram a descoberta de um bilhete em sua casa em que se lia: “Eu sou má, eu fiz isso. Matei-os de propósito porque não sou suficientemente boa, não mereço viver, sou uma pessoa horrível”.

Notem que essa criatura começava a ter a consciência despertada para a gravidade dos seus atos. Mas não é incomum, por outro lado, que muitos permaneçam em sua sanha criminosa até que sejam descobertos e entregues à justiça. Posto isto, com o sofrimento decorrente da privação de liberdade vem o arrependimento, e daí determinações mais saudáveis do Espírito culposo.

Santo Agostinho aconselha ainda que perscrutemos a nossa consciência se desejamos seriamente nos melhorarmos para que possamos extirpar de nós os maus pendores, como se arrancássemos as ervas daninhas do nosso jardim. Façamos, então, como ele recomenda, isto é, um balanço moral diário. Desse modo, “Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida.” Concluindo, o autoconhecimento nos aponta o caminho para acendermos a luz dentro de nós. Com essa capacitação aprendemos a arte do autodomínio e serenidade, que nos conduzirão, por extensão, à obtenção da felicidade plena no devido tempo. Fundamentalmente, cabe ainda destacar que nunca é tarde para se autoconhecer.

Anselmo Ferreira Vasconcelos

Fonte: Espiritismo na Rede

Esta entrada foi publicada em A Família, Artigos, Ciência, Dependência Química, Espiritismo, Sexualidade, Sociedade, Transição. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário