Pergunta de uma jovem de O Semeador da Federação Espírita do Estado de São Paulo: A Terra irá alcançar aquela condição de harmonia e de paz tão almejada por todos nós?
Eu acredito na Providência Divina e acredito na capacidade humana de corresponder à providência divina ainda mesmo que a nossa resposta de criaturas falíveis pareça um tanto o quanto tardia. Nós não acreditávamos na televisão e a televisão está aí unindo o mundo todo a ponto de escritores nossos denominarem a Terra de hoje como sendo uma aldeia global. Nós não acreditávamos no acesso do homem ao território da lua e nós sabemos que esta é uma realidade inconteste nos dias de hoje. Nós não acreditávamos na cura da varíola, por exemplo, e de outras moléstias consideradas fatais para o gênero humano, entretanto a própria hanseníase já está em seus processos de cura e todas as realizações que vamos encontrando, que vamos conquistando com a benção de Deus vem a ser um conjunto de respostas do Alto à nossa indecisão, à nossa dificuldade, à nossa descrença para que nós tenhamos um pensamento positivo a respeito de nós mesmos. Mas esse nós mesmos inclui muito trabalho para cada um de nós, e muita força de resolução para não trairmos nossos compromissos.
A resposta de Chico Xavier legada à posteridade pelo trabalho da Rádio Emmanuel através do registro de entrevista dada pelo inesquecível médium mineiro no ano de 1982 a diversos órgãos de imprensa, traz-nos singular oportunidade para refletirmos sobre os efeitos de nossas crenças na construção de nosso futuro, especialmente nesses tempos de Transição Planetária.
As crenças humanas são como uma ponte que liga o presente ao futuro, pois são a base para todas as nossas realizações materiais ou espirituais, fator fundamental para enfrentarmos os desafios e aprendizados em nossas vidas. Diz-nos Um Espírito Protetor (ESE – A Fé Divina e a Fé Humana – Cap. 19):
“A fé é humana ou divina, segundo o homem aplique suas faculdades às necessidades terrestres ou às suas aspirações celestes e futuras. O homem de gênio que persegue a realização de alguma grande empresa, triunfa se tem fé, porque sente em si que pode e deve alcançar, e essa certeza lhe dá uma força imensa. O homem de bem que, crendo em seu futuro celeste, quer encher sua vida de nobres e belas ações, haure em sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e aí ainda se cumprem milagres de caridade, de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não existem más tendências que não se possam vencer”.
Talvez possamos encontrar no funcionamento de uma orquestra sinfônica uma comparação útil para compreendermos a necessária síntese entre a ação do homem e a ação de Deus. Cada músico da orquestra, focado em sua partitura, precisa de muita firmeza e força de vontade para habilitar-se a executar sua parte no grande concerto. Ao mesmo tempo, no entanto, que seus olhos, sua atenção e ouvidos concentram-se fortemente na partitura e na execução de seu próprio instrumento, todo o seu ser também busca dar atenção ao todo, pois através de seus sentidos periféricos ele identifica, reconhece e segue o maestro.
Que aconteceria se cada músico, em que pese a fé humana por ele depositada em seu talento, capacidade e disciplina, executasse sua partitura no ritmo, intensidade e tempo que melhor entendesse? O resultado seria um emaranhado desconexo, uma competição caótica de sons sobrepondo-se uns aos outros, uma profusão de atuações individualistas que, mesmo se todas eficientes, não podem alcançar a harmonia e a beleza essenciais à apresentação conforme concebida pelo Compositor. Não parece uma descrição apropriada da relação do indivíduo com a coletividade, da criatura com o Criador, da fé humana com a fé divina em nossa realidade?
Pois mesmo em meio ao tremendo caos em que vivemos, uma possibilidade surge, um maravilhoso convite se faz a todas as criaturas. Se alguns músicos ouvirem-se, respeitarem-se e obedecerem ao maestro, um magnífico movimento poderá ocorrer. A massa sonora de seus instrumentos em harmonia emergirá e influenciará outros de boa vontade, ganhando adesões, aumentando ainda a ascendência do grupo, até que, definido o coletivo daqueles que se propõem à beleza e à harmonia, precise o maestro providenciar a saída dos músicos egoístas da orquestra para que a harmonia finalmente se estabeleça. Estes, então, junto a um maestro mais rígido e exigente, terão outra oportunidade de fazer aflorar a semente de sua fé em meio a seus espinhos de orgulho.
Da qualidade e do sentido que dermos à nossa fé depende a qualidade e o sentido que imprimiremos ao nosso destino em um mundo todo ele em transformação. Como ensinou o médium, essa atenção sobre nós mesmos “inclui muito trabalho para cada um de nós, e muita força de resolução para não trairmos nossos compromissos”. Mas, enfim, como ensinou o orientador, com a fé, não existem más tendências que não se possam vencer.
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