O papel da Evangelização Espírita na formação do ser

O papel da Evangelização Espírita na formação do ser

Janaína Magalhães

“Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas” – Jesus (Mateus 19:14).

Do ponto de vista espírita, a educação não começa no berço nem termina no túmulo, mas antecede o nascimento e sucede à morte do corpo físico. Sabemos que o Espírito é milenar e traz para a atual encarnação sua bagagem de experiências de vidas passadas, com suas tendências morais tanto positivas quanto negativas, podendo ser essas trabalhadas durante o processo educacional, seja no lar pelos pais ou na escola pelos educadores. E cabe aos pais o dever de passar os princípios e valores aos seus filhos, amparando-os e conduzindo-os nas diretrizes cristãs. Por ser Jesus nosso guia e modelo, seu Evangelho constitui rota segura a ser seguida para a formação de hábitos voltados ao bem e à implantação da paz.

Segundo Emmanuel no livro O Consolador, questão 109, até os sete anos de idade, o Espírito reencarnado se encontra em fase de adaptação à nova vida, e, por não existir uma integração perfeita entre ele e a matéria orgânica, é uma individualidade extremamente suscetível de receber as influências exteriores, a fim de consolidar os princípios renovadores para trilhar um caminho novo na vida. (Silveira, 2017, on-line)

De acordo com a questão 385 de O Livro dos Espíritos: “Que é o que motiva a mudança que se opera no caráter do indivíduo em certa idade, especialmente ao sair da adolescência? É que o Espírito se modifica?

“É que o Espírito retoma a natureza que lhe é própria e se mostra qual era. Não conheceis o que a inocência das crianças oculta. Não sabeis o que elas são, nem o que foram, nem o que serão. Contudo, afeição lhes tendes, as acaricias, como se fossem parcelas de vós mesmos, a tal ponto que se considera o amor que uma mãe consagra a seus filhos como o maior amor que um ser possa votar a outro. Donde nasce o meigo afeto, a terna benevolência que mesmo os estranhos sentem por uma criança? Sabeis? Não. Pois bem! Vou explicá-lo.

As crianças são os seres que Deus manda a novas existências. Para que não lhe possam imputar excessiva severidade, dá-lhes Ele todos os aspectos da inocência. Ainda quando se trata de uma criança de maus pendores, cobrem-se-lhe as más ações com a capa da inconsciência. Essa inocência não constitui superioridade real com relação ao que eram antes, não. É a imagem do que deveriam ser e, se não o são, o consequente castigo exclusivamente sobre elas recai.

Não foi, todavia, por elas somente que Deus lhes deu esse aspecto de inocência; foi também e sobretudo por seus pais, de cujo amor necessita a fraqueza que as caracteriza. Ora, esse amor se enfraqueceria grandemente à vista de um caráter áspero e intratável, ao passo que, julgando seus filhos bons e dóceis, os pais lhes dedicam toda a afeição e os cercam dos mais minuciosos cuidados. Desde que, porém, os filhos não mais precisam da proteção e assistência que lhes foram dispensadas durante quinze ou vinte anos, surge-lhes o caráter real e individual em toda a nudez. Conservam-se bons, se eram fundamentalmente bons; mas, sempre irisados de matizes que a primeira infância manteve ocultos” (KARDEC, 2022, p. 169).

Após esse período de 7 anos, com o processo reencarnatório consolidado, fica mais difícil à criança e ao jovem assimilar os ensinamentos repassados pelos pais, exigindo destes um esforço maior, paciência e muito amor para que o processo educacional seja efetivo e tenha êxito.

A mudança que se opera nas crianças ao alcançarem a maturidade dos corpos vem da sua liberdade de expressar o que são. Ao se ajustarem mais os laços da reencarnação, a alma fica mais consciente do seu estado espiritual, e passa a ser o que realmente é.

O Espírito tem necessidade de voltar ao corpo quando precisa reparar suas faltas, ou quando a Lei o induz para o devido despertamento espiritual, e é nesse reingresso na carne que Deus lhes dá a capa de inocência. Desta forma, receberá desde o princípio da sua nova existência certa dose de carinho, por ser sua presença uma flor que desabrocha, sorrindo para a vida. Se esse Espírito expressasse imediatamente o que ele é, talvez suscitasse nos próprios pais antipatia, vibrando neles o magnetismo que caracteriza sua presença. Mas Deus, como é sábio e justo, dá-lhe uma candura suficiente para que sobre ele os olhos recaiam com amor, cobrindo-o de toda a proteção.

As mudanças nas criaturas são gradativas; essa é a ação das Leis de Amor, derramando sobre elas a misericórdia no sentido de que sustentem uma posição melhorada na sua existência que começa. Se essas crianças ficassem no mundo espiritual, esquecendo a reencarnação, seriam necessárias certas imposições, drásticas demais para seu tamanho, no sentido de corrigi-las. Mas a bondade mostra o amor do Pai Celestial nos dando oportunidades melhores para o prosseguimento do nosso despertamento. (MAIA, 1989, p.57)

A criança não é um “adulto miniaturizado”, nem uma “cera plástica”, facilmente moldável. Trata-se de um Espírito em recomeço, momentaneamente em esquecimento das realizações positivas e negativas que traz das vidas pretéritas, empenhado na conquista da felicidade. Redescobrindo o mundo e se reidentificando, tende a repetir atitudes e atividades familiares em que se comprazia antes, ou através das quais sucumbiu.

Tendências, aptidões, percepções são lembranças evocadas inconscientemente, que renascem em forma de impressões atraentes, dominantes, assim como limitações, repulsas, frustrações, agressividade e psicoses constituem impositivos constritores ou restritivos, não poucas vezes dolorosos, de que se utilizam as Leis Divinas para corrigir e disciplinar o rebelde que, apesar da manifestação física em período infantil, é Espírito relapso, mais de uma vez acumpliciado com o erro, a ele fortemente vinculado, em fracasso morais sucessivos. (FRANCO, 2002, p.84)

Uma das atividades oferecidas na Casa Espírita é a Evangelização infanto-juvenil. Normalmente concomitante às palestras endereçadas aos adultos, as crianças e jovens têm como excelente opção assistirem as aulas sobre o Evangelho de Jesus na visão espírita. Cada Centro Espírita ministra essa atividade orientada pelas diretrizes da Federação Espírita Brasileira de modo a embasar o conteúdo a ser repassado às crianças.

Levando em conta as profundas transformações sociais que o mundo vem atravessando a Evangelização Espírita é uma ferramenta de suma importância na formação do ser no aspecto moral e espiritual. Paralelamente com a educação formal e com os princípios e valores aprendidos no lar, a criança e o jovem ao se afinarem e familiarizarem com os ensinamentos deixados pelo Cristo, baseados no amor ao próximo e a si mesmo, apresentam maior preparo para os revezes e obstáculos perante a vida.

O Centro Espírita, consciente de sua missão, deve envidar todos os esforços, não só para a criação das Escolas de Evangelização Espírita Infanto-Juvenil como para seu pleno funcionamento, considerando a sua importância em termos da formação moral das novas gerações e da preparação dos futuros obreiros da Casa e do Movimento Espíritas. (Passatempo Espírita, on-line).

Como objetivos da evangelização podemos citar:

  • Promover a integração do evangelizando: consigo mesmo; com o próximo e com Deus.
  • Proporcionar ao evangelizando o estudo: da lei natural que rege o Universo; da “natureza, origem e destino dos Espíritos bem como de suas relações com o mundo corporal.”
  • Oferecer ao evangelizando a oportunidade de perceber-se como: Homem integral, crítico, consciente, participativo, herdeiro de si mesmo, cidadão do Universo, agente de transformação de seu meio. (FEB, 1987, on-line)

Respeito às diferenças, valorização da vida, consideração pelo outro, compaixão e cooperação social são alguns exemplos de temas a serem trabalhados durante as aulas de Evangelização. Por meio de exemplos retirados do Evangelho e do cotidiano das crianças e jovens, numa linguagem lúdica e criativa, eles vão assimilando os conteúdos com mais facilidade e, o mais importante de tudo, deixando-se cativar e sensibilizar pelas belas e profundas mensagens de Jesus.

Daí a importância do papel do evangelizador espírita que deve estar convicto na eficácia da educação como instrumento libertador, ainda que as condições físicas, emocionais, sentimentais ou psicológicas do educando estejam provisoriamente frágeis.  Por meio do esforço amoroso, o evangelizador deve entender que o crescimento individual é gradativo e estar convicto de que o educando Espírito imortal e filho da Divindade possui a capacidade de superar-se na trilha da própria ascensão.

Além disso, o estudo da Doutrina Espírita por meio da leitura segura das obras básicas e das obras subsidiárias deve constituir roteiro seguro para aquele que se dispõe a ser educador de almas. (FARIAS, 2012, p.23-24).

Para que a Humanidade alcance melhor patamar evolutivo, a educação deve associar inteligência e moralidade. Moralidade que extrapola teologias, normas e dogmas religiosos, por se fundamentar na prática do bem, que analisa de forma reflexiva as consequências das próprias ações individuais e que adota como regra universal de convivência a milenar orientação recordada por Jesus: “Fazer ao outro o que gostaria que o outro nos fizesse”. (MOURA, 2014, on-line)

O Espiritismo pode iluminar a Educação com uma filosofia que transpõe os imediatismos, que transcende a todos os limites, que descortina os mais amplos horizontes, que atende aos mais nobres interesses, e que se reveste de um ideal capaz de impulsionar o verdadeiro progresso.

A educação, quando levar em consideração o ser humano de maneira integral, em seu aspecto intelecto-moral-espiritual, viabilizando a transformação íntima do Espírito atingirá seu objetivo essencial. O indivíduo educado se transforma em servidor da humanidade e instrumento de Deus, contribuindo para que a fraternidade se estabeleça no planeta. (MOURA, 2014,on-line)

Evangelizador Espírita

Janaína Magalhães

Nessa seara bendita

De ensino e dedicação

Feliz do que se realiza

Nas aulas de evangelização

Com muito empenho e amor

Envolvendo cada criança

É tarefa do educador

Transformar e promover a mudança

Em cada mundo interno

Há muita descoberta a fazer

Disponibilize a si mesmo

Para a educação do Ser

Perceba pelo olhar

Pela fala ou aptidão

Quem é o evangelizando

E acesse seu coração

Amor é o que move

O evangelizador preparado

Para a tarefa sublime

Que traz muito aprendizado

Na palavra que contagia

Pelo saber que conduz

Jesus é Modelo e Guia

Exemplo de pura luz

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Fonte: Letra Espírita

Referências:

A Evangelização infantojuvenil Espírita – Material para Capacitação de Evangelizadores – In: Passatempo Espírita – Disponível em: https://www.passatempoespirita.com.br/a-importancia-da-evangelizacao-infantojuvenil-capacitacao-de-evangelizadores/ – Acesso em 06 de agosto de 2023.

FARIAS, Janaína Conceição M. de. Diretrizes Apostólicas para o Evangelizador. Ditado por Espíritos Diversos. 1. ed. Belo Horizonte: Semeador, 2012.

FRANCO, Divaldo – SOS Família. Ditado pelo Espírito de Joanna de Ângelis e Diversos Espíritos. 17. ed. Salvador: LEAL, 2002.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, tradução de Guillon Ribeiro. Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita. 2022.

MAIA, João Nunes- Filosofia Espírita – Volume VIII. Ditado pelo Espírito de Miramez. Belo Horizonte: Fonte Viva, 1989.

MOURA, Marta Antunes – Trecho retirado da mensagem psicofônica recebida pelo Espírito de Meimei. FEB, Brasília, 29 de maio de 2014.

O Que é Evangelização? Fundamentos da Evangelização Espírita da Criança e do Jovem. Rio de Janeiro: FEB, 1987 – Disponível em: https://www.bezerrademenezesnatal.org.br/cursos-evangelizacao/o-que-e-evangelizacao.html – Acesso em 05 de agosto de 2023.

SILVEIRA, Guaraci de Lima – A crise dos 8 anos – Site O Consolador – Janeiro de 2017 -Disponível em: http://www.oconsolador.com.br/ano10/498/ca2.html Acesso em 05 de agosto de 2023.

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