CASAMENTO GAY
Richard Simonetti
Não temos a posição do Espiritismo sobre o casamento gay, porquanto o assunto não foi abordado na Codificação, mas podemos, com base na liberdade de consciência preconizada pela Doutrina, considerar o elementar: não há por que opor-se a duas pessoas do mesmo sexo que decidam viver juntas, independente do fato de manterem ou não uma comunhão sexual.
Observemos as questões abaixo, de O Livro dos Espíritos:
Questão 200. Pergunta Kardec: Os Espíritos têm sexo?
Responde o mentor: Não como o entendeis, porque o sexo depende da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na afinidade de sentimentos
Questão 201. Pergunta Kardec: O Espírito que animou o corpo de um homem pode animar, em nova existência, o de uma mulher e vice-versa?
Responde o mentor: Sim, são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as mulheres.
Se os Espíritos não têm sexo como morfologia, podendo reencarnar como homem ou mulher; se o que há entre eles é amor e simpatia, baseados na afinidade de sentimentos, o que os impede de cultivar um relacionamento afetivo com alguém do mesmo sexo?
Qualquer par de homossexuais, masculino ou feminino, indagado quanto à natureza de seu relacionamento, nos dirá que é muito mais uma questão de comunhão afetiva do que carnal. Não fosse por isso, não haveria razão para viverem juntos.
Nessa condição, têm o direito de formalizar em cartório a decisão, até por uma questão prática, envolvendo sucessão, herança, pensão, bens adquiridos em comum… antes a lei determinava que esse contrato fosse celebrado por um casal. Hoje, em muitos países, inclusive no Brasil, essa exigência foi abolida.
Considerando a semântica, há quem não admita a definição casamento para esse contrato social. Não vejo por quê. A língua portuguesa é muito generosa com relação às suas expressões.
Frequentemente apresentam vários significados, não raro até aparentemente contraditórios. O dicionário Houaiss diz, dentre outras acepções, que casamento pode ser uma associação ou uma aliança. Essas expressões, por extensão, contemplam a união entre duas pessoas do mesmo sexo, registrada em cartório para os fins legais.
Só não podemos admitir um casamento espírita, nos moldes das religiões tradicionais, já que a Doutrina não tem ritos nem rezas, nem ofícios nem oficiantes. Aprendemos que todo ato de comunhão com a espiritualidade é eminentemente único e pessoal, um assunto entre nós e a divindade.
Por isso, quem deseje pedir as bênçãos divinas para uma união matrimonial, para um filho que nasce ou um familiar que desencarna, deve fazê-lo pessoalmente, sem intermediação, elevando o pensamento na prece contrita.
Demonstrando que o casamento gay transcende a mera questão sexual, não raro os parceiros, sejam do sexo feminino ou masculino, adotam filhos, formando uma família.
Há quem não aceite, sob a alegação de que dois pais ou duas mães irão confundir a cabeça da criança.
Atendendo a essa objeção, pergunta-se: o que é preferível, a criança experimentar o trauma de crescer num orfanato ou, pior, na rua, ou ser cuidada e educada num lar formado por dois pais ou duas mães? Considere, prezado leitor, algo ponderável: pesquisas com crianças educadas por gays revelam que não apresentam dificuldades no relacionamento social. Muitas se saem até melhor nos estudos.
Tudo o que a criança precisa é de um lar ajustado, onde receba muito amor, não importando se é educada por homo ou heterossexuais.
Richard Simonetti
Fonte: Espiritualidade e Sociedade