PREOCUPAÇÕES E MORTE
Joanna de Ângelis
Vives os impositivos da carne em regime de absoluta submissão, como se a neblina material que te envolve não se diluísse ao impacto da morte.
Entregas-te às preocupações imediatas qual molusco aderido a rocha, como se a existência física não fosse um breve instante da vida plena, diante da qual te colocará a morte.
Afadigas-te com as opiniões alheias sofrendo dores não programadas, como se os conceitos dos outros pudessem acompanhar-te além da morte.
Pensas no futuro, envidando esforços e sacrifícios infindáveis para o dia de amanhã, sem lembrares que ele termina por aqui, para recomeçar depois da morte.
Experimenta as angústias que se multiplica na vestimenta celular, mas amas o corpo de tal modo que o negarias se pudesses, para a viagem da morte.
Conceituas o mundo como ingrato e cruel, onde o amor não viceja e a bondade não produz frondes, mas o aceitas como se não te libertasses dele ao chamado inexorável da morte.
Programas tarefas e ensaias atividades, perdido no turbilhão do carro somático, emprestando à existência colorido mentiroso que se desmancha ao fragor da morte.
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Muitos desavisados consideram os discípulos da codificação Kardequiana como um grupo de pessoas frustradas em franco desequilíbrio mental, porque eles falam sobre a morte, pensam na morte, esperam a morte, qual se conhecessem a vida depois da morte.
E a verdade é que os espiritistas conhecem realmente o continente estuante de vida que se alonga além das vibrações do decesso carnal.
Mensageiros da erraticidade lhes falaram das realidades do após túmulo, ensejando-lhes meditações apuradas sobre os valores legítimos e os imaginários que acompanham o espírito na vida futura.
Para tais, o corpo, vestimenta temporária, merece o que vale. Indumentária que carece de respeito e zelo, conservação e cuidado, amizade e gratidão.
Crescer através do corpo – é o seu lema – em vez de viver para o corpo.
O corpo é oportunidade. Liame entre o berço e o túmulo, facultada entrada e saída da vida física no processo incessante do evoluir.
Não te atenhas as questiúnculas passageiras do domicílio corporal.
Unge o coração de amor e alça a mente aos elevados programas da vida exuberante, preparando-te sempre para a desencarnação, matando lentamente vans ambições, infelizes querelas e secundários valores.
Fiandeiros da inutilidade gastam o tempo na roca da ilusão.
Operários da atividade reta despertam com os instrumentos do dever movimentados nas mãos.
Não te deixes consumir. A vida real é além da morte, onde se programam tarefas, ajusta-se roteiros e se organizam atividades… A erraticidade é a esfera das causas…
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Quando o Sublime Governador da Terra corporificou entre os homens, considerou o trabalho atendendo aos impositivos da ação na comunidade; respeitou a indumentária, submetendo-se as contingências da época; manteve amigos em círculo de afeição, atento à vida em sociedade; aceitou problemas comuns, compreendendo as limitações mentais dos que o cercavam; mas, sobretudo, preparou-se para o serviço de salvação dos espíritos, entregando-se, Ele mesmo, às maiores renúncias, às mais pungentes dores, às mais graves aflições para, através da cruz, em morte imerecida, atestar que as fronteiras do Reino da Alegria Perfeita começam com as primeiras tintas da madrugada, que brilha na esfera excelsa da Imortalidade, depois de todas as preocupações, vencida a morte…
Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo P. Franco
Livro: Dimensões da Verdade – 33