Amílcar Del Chiaro Filho
A maturidade as vezes nos traz recordações distantes que hoje podemos usufruir melhor no seu conteúdo. Dia desses veio-nos a mente uma reunião que participamos na Instituição em que vivíamos, ali pelos nossos 12 anos de idade, e um dos nossos professores perguntou: – Quem gostaria de ficar rico na vida? Todos ergueram o braço afirmando seu propósito, menos um que já era de família muito rica. O professor perguntou novamente: – Vocês estão dispostos a trabalhar duro para isso? Fazer sacrifícios. Novamente todos, menos o menino que já era rico, afirmaram que sim.
Lembramo-nos que o Professor perguntou a ele porque foi o único a não levantar o braço nas duas questões e ele respondeu que o seu pai já era muito rico, e ele era filho único.
O professor continuou calmamente: – Um grande Mestre disse certa vez que existem tesouros que os homens lutam por conquistar, mas são tesouros perecíveis, que enferrujam, desvalorizam ou podem ser roubados pelos ladrões. Estes tesouros alguns conquistam pela astúcia outros pelo trabalho, porém existe um outro tesouro, que são as virtudes, que não se perde, e são nossas para sempre.
O garoto rico perguntou: – Mas quem tem muito dinheiro para comprar o que quiser precisa deste outro tesouro? O sábio professor, a quem não sabíamos valorizar naquele tempo, respondeu com voz quase sumida, como que antevendo o futuro de todos nós: – Muito mais, meu filho. Muito mais!
Passaram-se algumas décadas. Nosso querido professor já vive no mundo espiritual há muito tempo. Lutamos uma vida inteira e raros daqueles meninos que estavam naquela reunião, enriqueceram. O menino que já era rico, nunca mais o vimos.
Agora, meditando sobre aquela tarde chuvosa que nos obrigou a passar o tempo numa sala com um mestre, percebemos que se não conquistamos virtudes evangélicas, apesar de toda luta, todo esforço que fizemos, alguns tesouros aconteceram em nossa vida, o maior deles, A Doutrina Espírita. Que manancial de água viva, que fonte de conhecimentos, de consolações e esperanças, que só agora, quatro décadas depois desta descoberta, começamos a perceber com mais nitidez as suas nuanças.
O que motivou as recordações foi o livro: O TESOURO DOS ESPÍRITAS. Do médium espanhol Miguel Vives, um livro em que o Irmão Saulo, ou José Herculano Pires fez todos um trabalho artesanal na sua tradução, porque Miguel Vives era um simples de coração, e como disse Herculano, para traduzir a obra ele procedeu como o alfaiate que moldou a roupa do seu cliente, respeitando a sua anatomia. Dissemos que Vives foi um simples e os simples costumam brilhar mais do que as jóias que descobrem ou possuem.
As vezes nos observam: Você é espírita, mas sofre tanto, tem tantos problemas e tantas dificuldades. Por que os espíritos, seus guias, não evitam o seu sofrimento?
As vezes respondo. Na maioria das vezes não digo nada. Mas sei que ser espírita não me dá privilégios quanto às minhas responsabilidades pelo passado, presente e futuro, mas me dá tranqüilidade íntima, inacessível aos que ainda lutam por outros tesouros.
Desculpem-me porque sem perceber abandonei o plural da modéstia e passei a utilizar a primeira pessoa do singular, mas talvez porque o meu inconsciente percebeu de que certas coisas só se pode afirmar por si mesmo. Continuo então no singular, porque tenho outros tesouros: Os amigos que suportam meus defeitos e me amam sem nada exigir, e nestes incluo a família, porque a amo, e nada exijo. A Rede Boa Nova de Rádio, canal em que manifesto o meu pensamento e me liga a inúmeros ouvintes que tem para comigo manifestações de compreensão e amor. Ela (a Boa Nova) é para mim, jóia deste tesouro maior que a vida me emprestou.
Hoje percebo sob outro ângulo o ditado norte-americano – O TEMPO É DINHEIRO – sim, o tempo é ouro para quem já se adiantou bastante nos caminhos da vida, acumulando janeiros que se manifestam na cor branqueada dos cabelos, nas rugas da face e no desgaste da máquina orgânica, e sabe que não pode perder mais tempo. O seresteiro, depois de muitos anos traz a cor do luar nos seus cabelos. O sofredor ilumina-se com o sol do Evangelho que o maior de todos os Mestres nos doou.
Consoante esse Mestre, o homem bom tira boas coisas do bom tesouro do seu coração. E nada tendo para dar, apenas indico o mapa do maior dos tesouros: O estudo das obras de Kardec e de seus continuadores. O respeito à vida em todas as suas manifestações. O silencio quando a vida nos impor uma dor muito grande, incapaz de ser descrita, ou quando a revolta assomar nosso coração recorramos ao antídoto da prece. E se algum dia alguém pedir para que você defina a vida, diga que a vida é o amor. Se alguém te perguntar o que é o amor, diga que é a vida.
(Extraído do site: www.espirito.org.br)