TRANSMISSÃO DE PENSAMENTO
- Cláudio C. Conti
Falar no meio acadêmico sobre o tema em questão, a transmissão de pensamento de uma pessoa para outra, causa embaraço e não é aceito, por isso, muito ainda é evitado.
Um exemplo interessante é que, no campo da Ciência, é ressaltado a grande importância de William Crookes, em suas diversas áreas de estudo e descobertas na Física e na Química. Todavia, não se ouve nada a respeito da sua atuação nos fenômenos do espiritualismo. Inclusive, foi Crookes que cunhou o termo “matéria radiante”, muito citado no meio espírita, apesar de ser um termo incorreto. O termo correto para o quarto estado da matéria é “plasma”, o qual se estabelece em condições muito específicas.
Outro exemplo similar está relacionado com o Eletroencefalograma – EEG. Seu inventor, Hans Berger, psiquiatra alemão, quando ainda jovem e morando longe de seus familiares, sofreu uma queda enquanto cavalgava. Naquela noite, recebeu um telegrama de sua família que estava preocupada com seu bem-estar, pois, sua irmã teve um pressentimento [1].
Este evento lhe causou uma profunda transformação e, a partir deste episódio, direcionou seu interesse para a psique humana e, na busca de entendimento, descobriu uma forma de detectar as ondas cerebrais, hoje conhecido como EEG [1].
Hans Berger conduziu numerosos experimentos visando compreender os processos da psique humana e a neurociência moderna tem muito o que agradecer a este pesquisador [1].
Apesar de, como dito anteriormente, não ser um assunto amplamente abordado no meio acadêmico, a transmissão de pensamento, ou telepatia, atrai a atenção de muitos pesquisadores que estudam o tema. Uma importante obra que apresenta extensa análise desta questão é intitulada Mentes Entrelaçadas, em tradução livre. O autor, Dean Radin, é um cientista com ampla experiência.
Neste livro, Dean Radin apresenta o resultado de vários experimentos envolvendo a transmissão de pensamento, assim como teorias sobre seu funcionamento. O título, Mentes Entrelaçadas, faz uma alusão ao conhecido entrelaçamento quântico, no qual partículas se encontram de tal forma conectadas, quando originadas de um único fenômeno, que apresentam comportamentos iguais quando sujeitos à alguma interferência, mesmo estando à longa distância uma da outra.
Na abordagem espírita, temos que os espíritos podem se comunicar independentemente do estado em que se encontrem, seja na vigília ou no sono. Contudo, no estado de vigília a comunicação é mais difícil [2]. Talvez, esta dificuldade esteja em ser menos perceptível.
Não menos interessante é a questão número 421 de O Livro dos Espíritos, na qual Kardec pergunta se haveria uma explicação para que “duas pessoas, perfeitamente acordadas, tenham instantaneamente a mesma ideia” [3]. A resposta apresentada é se tratar de “dois espíritos simpáticos que se comunicam e veem reciprocamente seus pensamentos respectivos” [3].
Nesta nossa análise vemos uma semelhança entre mentes entrelaçadas, conforme expresso por Dean Radin, e espíritos simpáticos, conforme a Doutrina Espírita. Assim, de alguma forma, espíritos simpáticos apresentam a propriedade de sentirem, ou perceberem, interferências que possam afetar um deles, conforme o ocorrido entre Hans Berger e sua irmã. Nesta relação, um espírito poderá perceber, inclusive, a repercussão do pensamento de outro espírito sobre si mesmo.
A transmissão do pensamento de uma pessoa à outra não é trivial, podemos dizer, até mesmo, ser de difícil entendimento. Inclusive, podemos ressaltar que a terminologia utilizada, transmissão de pensamento, é comumente interpretada como “algo”, o pensamento, viajando de um ponto a outro. Todavia, o entendimento de mentes entrelaçadas e de que espíritos simpáticos se comunicam e veem reciprocamente seus pensamentos respectivos, não deve ser entendido como “algo” cruzando o espaço, mas uma interferência direta de processos mentais no fluido, independentemente do espaço. É importante ter em mente que “os espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, não os manipulando como os homens manipulam os gases, mas empregando o pensamento e a vontade” [4].
Nesta visão podemos considerar que o espírito elabora processos mentais – lembranças, decisões, ponderações, aprendizado, sentimentos, emoções, etc. – que repercutem no fluido de alguma forma, o que dependerá da natureza do processo mental. Poderíamos, então, considerar o pensamento como a resultante relacionada com o processo mental, isto é, a repercussão. Em outras palavras, o pensamento não viaja, não percorre espaço, mas age pontualmente segundo o interesse do ser pensante.
Podemos, desta forma, considerar três níveis de entendimento para o pensamento:
1) Transmissão através de um condutor, tal como o telégrafo na época de Kardec ou telefones com fio;
2) Transmissão semelhante às ondas eletromagnéticas, em que não há necessidade de um fio condutor, tal como na telefonia sem fio – o telefone celular e;
3) Processos quânticos de ação do observador sobre o fluido, o qual pode ser percebido e reconhecido por outro espírito.
Cláudio C. Conti
Artigo do Jornal: Correio Espírita – Setembro 2019
Notas bibliográficas:
- Dean Radin; Entangled Mind, Cap. 2.
- Allan Kardec; O Livro dos Espíritos, Questão 420.
- Ibidem; Questão 421.
- _; A Gênese, Cap. XIV, item 14.