A mensagem: O Credo de Eurípedes Barsanulfo
O Credo de Eurípedes “CREIO que não temos nossa causa em nós mesmos; que existe acima do homem e superior à natureza um Ser Pensante, Infinito, Eterno, Imutável, um Supremo Legislador; que a existência de um Criador, de uma Razão primitiva, é um fato adquirido pela evidência material dos fatos, que o Universo não é nem surdo, nem cego; que a vida não é uma confusão sem fim, um caos informe; que tudo tem sua razão de ser, seu alvo, seu fim.
CREIO que o Nada é uma palavra vã; que a Morte não existe; que nada morre; que o ser sobrevive ao seu invólucro; que a morte não existe; que a morte não é um termo, mas. Uma metamorfose, uma transformação necessária, um renovamento; que somos eternos pela base do nosso ser; que nada do que existe pode ser aniquilado; que existiremos, porque existimos.
CREIO que não há aniquilamento, mas sempre estados sucedendo a outros estados, a eterna transmissão de outra ordem de coisas a outra, de uma economia a outra, de um serviço a outro; que tudo renasce; que tudo volta a sua hora, melhorado, aperfeiçoado pelo labor; que o nascimento não é o verdadeiro começo; que nascer não é principiar, mas mudar de figura; que nossas existências não são mais que continuações, séries, conseqüências; que o sono ou despertar, morte ou nascimento, são uma e a mesma coisa; transição semelhante, acidente previsto.
CREIO que tudo evolui e tende para um estado superior; que tudo se transforma e aperfeiçoa; que o homem marcha sempre e sempre se engrandece; que tudo rola, prolonga-se e renova-se; que a morte não é o único teatro de nossas lutas e de nossos progressos; que o universo é sem lacuna; que há mundos infinitos nesse universo infinito; que o mundo é um ponto que conduz a outro e que os há para todos os graus de crescimento.
CREIO que , saindo desta vida, não entramos em um estado definitivo; que nada se acaba neste mundo; que enquanto um destino humano tem alguma coisa a cumprir, isto é, um progresso a realizar, nada está para ele acabado ; que a morte não deve ser tomada senão como um descanso em nossa viagem; que a morte é feixe de caminhos em todas as direções do universo e nos quais efetuamos nosso destino infinito.
CREIO que DEUS não criou almas civilizadas; que a alma humana é o resultado do trabalho, que todos os homens são cidadãos da mesma pátria, membros da mesma família, ramos da mesma árvore; que todos têm origem, destino e aspiração comuns, que todos começaram a ascensão que estão somente mais ou menos altos; que os mais vis têm por lei alcançar os mais elevados.
CREIO que o homem não é o ultimo anel que une a criatura ao Criador; que não somos os primeiros depois de DEUS; que temos ao menos tantos degraus sobre a cabeça como abaixo dos pés; que a vida está em toda a parte, que a alma está em toda coisa, que o corpo envolve um espírito; que o homem não é o único; que é seguido de uma sombra; que todos , o próprio calhau miserável, tem atrás de si uma sombra, uma sombra diante deles; que todos são alma que vive, que viveu, que deve viver.
CREIO que a harmonia do Universo se resume em uma só lei; que o progresso por toda parte é para todos, para o animal como para a planta, para a planta como para o mineral; que tudo segue a mesma rotação, que tudo morre da mesma maneira e morre ultimamente; que a vida sorve todos os elementos da própria morte; que cresce por série continua de transformações infinitas, que parte do infinitamente pequeno marcha para o infinitamente grande.
CREIO que tudo que vive é encarnação; que toda evolução, toda transformação é encarnação, que as criaturas sobem no crescimento d’alma como no dos invólucros; que o homem é o espírito encarnado; que a alma não é criada ao mesmo tempo que o corpo , que ela é apenas incorporada; que a encarnação é uma lei da natureza, uma necessidade absoluta, conseqüência lógica da lei do progresso; que todo o homem é um resumo de existências anteriores, que se compõem de numerosos personagens, formando um só.
CREIO que neste universo, obra da Infinita Sabedoria, nada acontece pelo jogo do acaso; que nada se faz sem uma Soberana Justiça; que toda desordem não existe senão em aparência; que não há acaso, nem fatalidade; que as forças, leis, que ninguém pode derrogar; que todas as coisas do mundo têm ligação entre si; que nada é isolado; que o mundo material é solidário com o mundo espiritual e que ambos se penetram reciprocamente; que tudo se mantém, tudo se concorda, tudo se encadeia, e, se liga, sobre o ponto de vista moral, como físico; que na ordem dos fatos, dos mais simples aos mais complexos, tudo é regulado por uma lei.
CREIO que a lei moral é uma verdade absoluta; que a Justiça, a Sabedoria, a Virtude, existem na marcha do mundo, tanto quanto a realidade física; que não se pode transpor, sem trabalho e sem mérito, um grau na iniciação humana; que o espírito deve chegar só, por si, à verdade, e que tem de tornar-se merecedor de sua felicidade, que a felicidade para ter tido o seu preço, deve ser adquirida e não concedida.
CREIO que a vida não é um jogo, uma ilusão, que a verdadeira vida não é a que multiplica os gozos; que a felicidade tal qual a entendemos não pode existir; que é preciso que o esforço subsista neste mundo; que não estamos aqui para gozar, mas para lutar, trabalhar, combater; que a luta é necessária ao desenvolvimento do espírito, que Verdadeiro fim da vida consiste no dever que incumbe a todo ser humano de subjugar a matéria ao espírito.
CREIO que o homem é justificado não por sua fé, mas por suas obras; que a prática do bem é a lei superior, a condição ¨sine qua non¨ de nosso futuro; que a santidade é o alvo a que devem os chegar; que não se pode fazer tudo impunemente; que a felicidade e a desgraça dos homens dependem absolutamente da observação da lei universal, que regem a ordem em a natureza.
CREIO que existem um Inferno e um Paraíso filosóficos, isto é, um sistema natural que liga entre si, intimamente, as causas além e aquém do tempo; que sempre nos sucedemos a nós mesmos; que sempre determinamos, por nossa marcha presente a marcha que seguiremos mais tarde.
CREIO que o presente determina o futuro; que cada homem tece em volta de si o seu destino; que se torna sem cessar o que mereceu ser;que nenhum desvio do caminho reto fica impune; que os que dele se afastam serão a ele levados fatalmente; que o progresso é uma lei soberana a qual ninguém resiste; que não há um defeito, uma imperfeição moral, uma ação má que não tenha sua contradita e suas conseqüências naturais; que não há ato útil sem proveito, falta sem sanção; que não ação que possa sonegar-se.
CREIO que cada um deve a si mesmo sua sorte, que cada um cria as suas alegrias como as suas penas; que o homem é o seu próprio algoz; que se remunera e se pune a si mesmo; que colhe o que semeia e nutre-se do que colhe, debilitado ou fortificado pelos alimentos que ele próprio produziu; que a alma transporta em si mesma o seu próprio castigo, em todo o lugar em que possa encontrar; que o inferno não é um lugar, mas uma condição de ser, um estado da alma; que pertence a cada um de nós sair dele ou aí nos manter.
CREIO que a pena está senão na falta; que é impossível que coisas possam separar-se; que o sofrimento não é o resultado do acaso; que toda lágrima lava alguma coisa; que dor e culpabilidade são sinônimos; que o homem em evolução é tributário de seus erros e de seus maus pensamentos; que somos nós os instrumentos de nosso próprio suplicio.
CREIO que toda vida culposa deve ser resgatada; que toda falta cometida, todo mal causado é uma divida contraída, que deve ser paga no momento ou no outro, quer em uma existência quer na outra; que a fatalidade aparente, que sem eia de m ales o caminho da vida, não é senão a conseqüência do nosso passado, o efeito produzido pela causa; que a vida terrestre é ao mesmo tempo reparação e preparação; que nenhum de nós é o que deve ser e que é preciso que a razão se cumpra, que a justiça se faça e o bem seja.
CREIO que cada nova existência é um novo ponto de partida, em que o homem é aquilo que se fez; que renasce com seu débito e com seu crédito; que nada perde do que adquiriu; que o esquecimento temporário do passado é a condição indispensável de toda provação e de todo o progresso; que é preciso que o esforço seja livre e voluntário; que o conhecimento dos fatos anteriores e das sanções inevitáveis embaraçaria o homem, em lugar de ajudá-lo; que é justo e necessário que, em seu estado atual, o passado e o futuro lhe sejam ocultos.
CREIO, enfim, que a revelação é progressiva, que a verdade se desvenda sempre, segundo os tempos e os lugares; que estamos na aurora da vida consciente e que marchamos, todos, na solidariedade universal, através de vidas sucessivas para a infinita perfeição; que o futuro encerra e que tudo foi criado, tendo em vista um bem final; que o Bem é a lei do Universo e o Mal um estado transitório, sempre reparável, uma das fases inferiores da evolução dos seres para o bem ; que nada de irremediável pesa sobre nós; que tudo se apaga; tudo se dissolve; que a dor é libertadora, que nada é negro, nada é triste; que tudo acaba bem e que não se tem senão de esperar a sua hora em um mundo ou em outro.”
Eurípedes Barsanulfo, 31 de dezembro de 1913