Distúrbios da mediunidade

Francisco Muniz

Nos primórdios dos estudos sobre a mediunidade, pensava-se e dizia-se que o exercício dessa faculdade poderia causar perturbações à saúde física e mental do médium. As pesquisas sérias realizadas por homens criteriosos, espíritas ou não, mostraram exatamente o contrário. Entretanto, a ignorância quanto a tais resultados faz com que pessoas desavisadas se mantenham acreditando e repetindo essas informações equivocadas. Em O Livro dos Médiuns, Allan Kardec aborda a questão, no capítulo referente aos inconvenientes e perigos da mediunidade. O Codificador interroga, possivelmente, o Espírito São Luiz e recebe dele noções esclarecedoras quanto ás relações entre mediunidade e (falta de) saúde. De acordo com o mentor espiritual, a faculdade mediúnica é indício, algumas vezes, de um estado anormal, mas não patológico. Ele ajunta que há médiuns de saúde bastante vigorosa como há também os que são doentes, mas cuja enfermidade se deve a outras causas.

Há ocasiões em que é prudente – diz São Luiz – e necessário o médium se abster ou moderar o uso de sua faculdade, embora isso dependa do estado físico e moral do sensitivo. Cremos que tal conselho se prenda apropriadamente a mulheres no período menstrual, principalmente aquelas sobre as quais o descontrole hormonal é mais acentuado, provocando o que hoje se chama de tensão pré-menstrual (TPM).
Também há casos em que o médium – não importando o sexo – se sente extenuado e por isso deve impor alguma restrição ao exercício mediúnico. Nesses momentos, o médium sente quais são sus condições físicas e mentais, geralmente, e deve abster-se da faculdade, conforme avisa São Luiz.
Há quem abrigue a ideia de que o contato com as entidade espirituais desencarnadas sofredoras pode causar psicoses nos médiuns. Procurando rebater tal equívoco, o Projeto Manoel Philomeno de Miranda (PMPM) esclarece que não têm razão os que assim pensam nem os que assim procedem. O médium espiritista – informa o PMPM – tem conhecimento, através da doutrina que professa, dos antídotos e dos medicamentos para manutenção do próprio equilíbrio. O projeto chama a atenção, porém, para o fato de que há médiuns em desalinho mental em todos os departamentos humanos, inclusive nos arraiais do Espiritismo. A diferença, pondera, é que nas células espiritistas de socorro eles aparecem na condição de enfermos em tratamentos especiais e demorados, pois já vieram em tormentos e se demoram sem qualquer esforço de renovação íntima.
Em Médiuns e Mediunidades, o espírito Vianna de Carvalho informa, pela pena de Divaldo Franco, que a suposta geração de enfermidades pelo exercício mediúnico não tem qualquer legitimidade. “Quem afirme em contrário apenas repetirá chavões que a experiência dos fatos demonstrou ultrapassados”, revela o instrutor espiritual. Segundo Vianna de Carvalho, a mediunidade, como qualquer outra faculdade orgânica, exige cuidados específicos para um desempenho eficaz quão tranquilo. É forçoso entender, então, que os distúrbios atribuídos ao exercício mediúnico decorrem das distonias emocionais do médium que, espírito endividado, reencarna enredado no cipoal das próprias imperfeições, das quais derivam seus conflitos, suas perturbações, sua intranquilidade.
O Espírito André Luiz, por sua vez, ressalta que, uma vez sabendo que todo sofrimento orgânico é uma prova espiritual, dentro das leis cármicas, o médium, especialmente se matriculado nas hostes espíritas, jamais deverá recear a dor, mas aceitá-la e compreendê-la com desassombro e conformação. É extremamente valioso, diz ainda esse amigo espiritual, que médium aproveite a moléstia como período de lições, sobretudo como tempo de aplicação dos valores alusivos à convicção religiosa. Porque a enfermidade pode ser considerada por termômetro da fé, completa André Luiz.

Referências

Franco, Divaldo P. – Médiuns e Mediunidades, pelo Espírito Vianna de Carvalho. 5.ª ed. LEAL, Salvador, 1999.
Kardec, Allan – O Livro dos Médiuns. 68.ª ed. IDE, Araras (SP), 2004.
Projeto Manoel Philomeno de Miranda – Qualidade na Prática Mediúnica. 2a. ed. LEAL, Salvador, 2000.
Vieira, Waldo – Conduta Espírita, pelo Espírito André Luiz. 17.ª ed. FEB, Brasília, 1994.

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