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Eu e o Pai somos um. (João, 10:30)
“Orar, a seu turno, não exprime somente adorar e aquietar-se, mas acima de tudo, comungar com o Poder Divino, que é crescimento incessante para a luz, e com o Divino Amor, que é serviço infatigável no bem.” [1]
Muitas questões continuam sendo levantadas sobre essa passagem, registrada por João, quando Jesus afirma ser um só com o Pai. A interpretação mais casuística levou a entendimentos que afetaram, e afetam ainda, milhões de pessoas que acabam prendendo-se ao formalismo e à discussão dogmática, deixando o perfume que a essência desse ensinamento nos apresenta.
Quando se consulta um bom dicionário de língua portuguesa, vamos encontrar como uma das definições do verbo “comungar” a seguinte: “Ter parte em, afinidade, contato, ligação, comunicação com…”. Comungar com Deus, portanto, é estar em contato com Ele, estabelecendo e mantendo a ligação com Aquele que é a “causa primária de todas as coisas”.[2]
E todos nós sabemos que o meio de entrar em contato com Deus, é pelo pensamento, conforme nos explicam os Espíritos que orientaram a codificação kardequiana, na questão 649 de O Livro dos Espíritos, quando Allan Kardec pergunta sobre em que, de fato, consiste a adoração. E a resposta, simples e direta dada pelos Espíritos, diz: “Na elevação do pensamento a Deus. Deste, pela adoração, aproxima o homem sua alma.”
Sabemos, portanto, que quando elevamos nosso pensamento a Deus estamos entrando em contato, nos ligando, nos comunicando com Aquele que criou a tudo e a todos.
Nós, em nossa ingênua presunção, vulgarizamos o ato da prece, que é a forma mais eficaz de contatarmos a Divina Sabedoria, tornando-o num simples repetir automático de palavras decoradas que é feito para atender a uma obrigação ritualística, quando, na verdade, deveríamos entender que esse momento é sublime, pois estamos conversando com Deus. Vulgarizamos esse ato de adoração quando simplesmente repetimos palavras que, na maioria das vezes, nada significam de fato para aquele que se supõe em oração.
Muitos, ainda, repetem as palavras decoradas das orações que encerram sentimentos puros e profundos, por assim entenderem que pelo simples fato de reproduzi-las já se está protegido contra os males e dificuldades da vida e contra as tentações. Doce ilusão!
A adoração, através da prece sincera, é um ato agradável a Deus, pois representa o desejo do filho aproximar-se do Pai. Dizem-nos os Espíritos que “A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, pois, para Ele, a intenção é tudo.” A eficácia desse processo de comunicação está muito mais no significado, que no ato em si.
Entendemos, portanto, que podemos conversar com Deus. Mas, o que diremos a Ele, quando estivermos orando?
Basicamente, poderemos agradecer. Agradecer por tudo que recebemos, pelas experiências que estamos vivenciando, pela família, pelo trabalho, e por tantas e tantas dádivas que Ele nos oferece diariamente. A ingratidão representa sinal de orgulho, pois só não agradece aquele que se julga merecedor e com direitos naturais a tudo o que possui, esquecendo-se de que nada tem de si mesmo, além de suas aquisições morais, sendo que o restante, a rigor, é de posse transitória.
Outra finalidade da prece é a de louvar. Louvar a Deus, não simplesmente de forma contemplativa, mas de forma prática através do exercício do bem e do serviço ao próximo. A posição contemplativa e inoperante distancia-se da Divina Providência, como a noite do dia. O universo é ação. Nada está ocioso. A prece, portanto, em sentido de louvor deve também ser ativa.
O terceiro objetivo da prece é o de PEDIR. Este é sem dúvida aquele que a maioria de nós usa e abusa. Entendemos que este objetivo é o único e o mais importante, colocando muitas vezes, Deus e seus mensageiros, na condição de serviçais que devem anotar nossos pedidos e satisfazer a todos eles. Chegamos ao cúmulo de comercializar com o Poder Divino, oferecendo algo em troca para se conseguir atingir o alvo almejado.
Diante da nossa ignorância do que venha a ser Deus em sua grandiosidade, temos a ousadia de rebaixar o Criador à condição de um ser mesquinho e sequioso pela posse de bens terrenos, que, aliás, já Lhe pertencem, pois foi Ele que a tudo criou. Visto dessa forma, esse comportamento tão comum, de “comprar” as benesses divinas, não nos parece algo insano e completamente sem sentido?
Jesus, nosso modelo maior e referência única da Bondade e do Amor sobre a Terra, exemplificou no “faça-se a Tua vontade e não a minha”, o real sentido da adoração.
A prece proferida pelo Mestre no Getsêmani demonstra a forma mais elevada de adoração a Deus, dizendo ao Pai que se submetia à Sua vontade. Que sofreria o que fora necessário sofrer, pois sabia que as lições de amor e perdão de que fora instrumento, causaria muitas dissensões e exigiram muita perseverança e espírito de sacrifício, uma vez que essas modificações não ocorreriam de maneira impositiva, mas sim através da colaboração do próprio homem, na construção do amor através dos milênios sem conta.
Comunhão com Deus é, portanto, o nosso grande alvo que só se alcança pela prática de ações alinhadas com vontade do Pai Amoroso e Justo, diante daqueles que se nos apresentam em nosso caminho, propiciando-nos o ensejo de avaliarmos o quanto estamos de fato rumando para o nosso Criador, através da prática dos ensinos trazidos pelo Mestre Jesus.
[1] EMMANUEL [Espírito], PALAVRAS DE VIDA ETERNA, psicografia de Francisco Cândido Xavier, Comunhão Espírita Cristã, 37ª. reimpressão, 2013 – Mensagem No. 3 – Evitando a Tentação.
[2] KARDEC, Allan – O Livro dos Espíritos – Instituto de Difusão Espírita – Araras-SP, 135ª. Edição junho/2001, questão No. 1 – O que é Deus?
– Postado por Paulo Oliveira em: rede amigo espírita