ABORTO: Renovação e Resgate

ABORTO: Renovação e Resgate

– Esclarecimentos pelo médium Divaldo Franco

Muitas pessoas experimentam intenso sofrimento psíquico por causa da culpa por um aborto provocado. Por isso, quando ocorre a tomada de consciência a respeito do equívoco cometido, como fazer a transição para uma condição saudável e isenta dos danos produzidos pela culpa? Como remediar o mal imposto ao Espírito que estava para reencarnar?

Alguns amigos já me disseram: “Eu perdoo com muita facilidade, mas não esqueço? E eu acredito que essas pessoas não esquecem mesmo, pois este é um fenômeno psicológico comum a qualquer ser humano. Lembrar e esquecer são funções que pertencem à memória, enquanto perdoar é um atributo do sentimento. 

E nem sempre a memória consegue diluir alguns fatos, mesmo que seja este o nosso desejo mais profundo. Perdoar significa não desejar ao outro o mesmo mal que nos foi feito. Significa também não revidar, e dar à pessoa equivocada o direito de ser alguém mais feliz. 

Mas o perdão não se refere a uma proposta de amar de forma inconsequente e imatura, ofertando a nossa confiança a alguém que poderá valer-se da oportunidade para ferir-nos outra vez.

Afinal, Jesus nos convidou a ser mansos como as pombas e prudentes como as serpentes.

Fiz esta introdução ao tema do perdão para que o meu comentário pudesse desaguar na importância do auto perdão. 

Para quem praticou o aborto, auto perdoar-se será uma psicoterapia de resultados salutares. Em qualquer circunstância da vida humana precisamos perdoar-nos verdadeiramente em caso de qualquer insucesso. Da mesma forma que o alo-perdão (o perdão ao outro) não é sinônimo de amnésia em relação à ofensa sofrida, o auto perdão não consiste em eliminar da memória o erro em que incorremos. 

Na esteira deste raciocínio, se o alo-perdão não requer uma confiança incondicional e ingênua em quem nos feriu, o auto-perdão não admite o recuo diante da responsabilidade pelos nossos atos. Além disso, para se auto perdoar o indivíduo deve abandonar o cultivo da auto-punição, que representa uma postura corrosiva para a vida mental.

Certa vez, uma senhora confidenciou-me ter praticado diversos abortos. Ao revelar tal fato, eu percebi que ela esperava de minha parte uma enfática reação de espanto. 

Tranquilamente eu olhei-a e respondi-lhe:

— Pois não. Em que lhe posso ser útil?

— O senhor não se espanta com o que eu lhe falei?

— Não, senhora.

— Por que, não?

— Porque a senhora utilizou o seu direito de praticar os abortos. Seu dever agora é reparar o mal que perpetrou, devolvendo à vida os bens que subtraiu.

— Mas como poderei remediar? Na idade em que estou, não tenho mais condições biológicas para ter filhos!

— Comece procurando algumas crianças que necessitam estudar e que têm dificuldades. Ajude-as naquilo que estiver ao seu alcance! Auxilie familiares economicamente vulneráveis. Mas, primeiro, ajude-se a si mesma. Faça uma análise do porquê de suas escolhas infelizes. Já que a senhora sabe que o sexo pode levar a consequências dessa natureza, refaça seus conceitos e reconstrua o seu caminho.

— Mas, senhor Divaldo, todo mundo me condena…

— Não é importante que os outros a condenem, pois este é um lato que emerge naturalmente do cotidiano, uma vez que nós nos condenamos reciprocamente por mecanismos psicológicos de transferência. Geralmente nos faz bem condenar os outros. Preocupe-se com o seu estado de consciência. 

O que a senhora sente neste momento?

— Sinto-me uma pessoa completamente abjeta!

— Pois agora comece a sentir-se gente! Viva plenamente e ame! Até agora a senhora não amou, apenas experimentou manifestações sexuais que lhe deixaram queimaduras morais que decorrem dos ácidos da insensatez. Tente amar!

— Mas o que eu fiz não é um crime?

— Este é outro aspecto da questão, quando então penetramos na esfera do julgamento e das consequências do ato. A senhora contou-me que cometeu um crime. Vamos deixar o julgamento para a sua consciência e para a Consciência Cósmica. Sua justificativa para manter-se em um estado temporário de amargura é até plausível, mas a senhora não tem o direito de destruir a vida porque optou pelo aborto. 

A senhora está viva! É evidente que não deveria ter cometido o infanticídio. No entanto, o crime já foi praticado e não há como retroceder. Volto a repetir que este é o momento de tentar reparar os danos que decorrem dos seus atos.

— Senhor Divaldo, creio que é tarde demais para mim. Estou com câncer uterino. Será que os abortos acarretaram esta doença?

— Eu conheço muitas mulheres com câncer uterino que nunca mantiveram relacionamento sexual. Procure não pensar que o seu delicado estado de saúde representa uma punição por causa do aborto. Esse câncer é uma incidência natural que se justifica porque a senhora possui útero. Por que terá que introjetar a culpa e infligir-se uma punição a si mesma? 

Se a senhora não tivesse útero poderia desenvolver um câncer em outra região do corpo, de acordo com a sua necessidade evolutiva.

E fácil notar que o meu esforço terapêutico se concentrou em não agravar ainda mais o sofrimento psíquico que a infelicitava. Concluir que a doença era uma forma de punição imposta pela vida, não lhe traria benefício algum.

Após o meu esclarecimento em torno da doença, ela questionou:

— Mas o que fazer?

Olhei-a com ternura e esclareci-a:

— Siga a orientação do médico e diga ao seu útero cansado: “Desculpe-me, meu amigo! Vamos recomeçar tudo”. Esta é uma forma de dialogar com o psiquismo celular e reverter a desarticulação biológica que provocou o câncer 30. (30. Ver o livro Dias Gloriosos, cap. 7 (Recuperação e Cura).

Não adianta arrepender-se e ficar atormentada, saindo de um conflito para logo em seguida experimentar outro drama de graves consequências. Liberte-se do conflito! Se a senhora reconhece que não deveria ter praticado os abortos, esta tomada de consciência já representa um passo importante. Inicie a sua nova jornada realizando coisas que a senhora acha que deve e que pode fazer.

Com as orientações que ofereci à senhora saiu da Mansão do Caminho mais aliviada e com relativa serenidade.

Depois de algum tempo ela submeteu-se a uma histerectomia e também retirou outros órgãos do sistema reprodutor. E até hoje continua uma mulher plena, não morreu e nem teve recidiva da doença. Mudou de atitude mental e procurou amar profundamente os irmãos de humanidade.

É importante ressalvar que ninguém deverá distorcer esta narrativa e afirmar que sou favorável ao aborto. Não se trata disso! O aborto é um crime hediondo! 

Mas jamais me colocarei na condição de juiz daqueles que abortam. A finalidade da proposta que apresento é psicoterapêutica, não condenatória. A pessoa tem o direito de fazer da sua vida o que lhe apraz, sofrendo naturalmente as consequências daquilo que elegeu. A nossa função, enquanto agentes da fraternidade, é estritamente terapêutica, oferecendo meios e sugestões para que o indivíduo implicado no drama psicológico supere o conflito que o dilacera.

Então, eu comecei a trabalhar com aquela senhora para que ela se exercitasse na terapia do auto-perdão. 

Ela me diz constantemente:

— Divaldo, eu tenho dificuldade de me perdoar! E eu lhe esclareço:

— Porque não amou a nenhum desses homens com quem se relacionou e de quem engravidou. No dia em que a senhora amar a um homem e modificar a sua trajetória em direção aos caminhos da ternura, vai constatar como é possível perdoar-se!

Ela já está com cinquenta anos de idade. Não encontrou especifica mente um amor para estar ao seu lado, mas resolveu amar a vida e a si mesma. Esta iniciativa proporcionou-lhe uma recuperação afetiva, que agora ama a muitas pessoas e está com o coração tranquilo.

Um amigo comum, que lhe conhece a biografia, falou-me em uma ocasião:

— Divaldo, não sei como você suporta Dona fulana! Ela é tão obsidiada!

— Como você sabe? — perguntei.

— Ela é abortista — respondeu.

— E como você sabe que ela tem obsessores? — insisti.

— Porque eu desconfio que aqueles que ela matou a estão obsidiando! Você não acha isso provável?

— Curioso… Eu nunca vi nenhum Espírito obsessor ao lado dela… Porque o Deus a quem eu amo não é aquele que pune com obsessores, é o que abre a porta para quem deseja redenção…

E confesso que realmente eu nunca me detive a ver se ela possui obsessores ou anjos de luz em sua psicosfera. Isso não é importante. O importante é que ela seja feliz!

A Doutrina Espírita é uma proposta de amor! Preconiza que não existe erro que não seja passível de correção. Todos nós, sem exceção, erramos. E quando isso acontece, as Soberanas Leis nos permitem a qualquer momento a reabilitação, que é o instrumento para reparar os nossos erros.

O único ser que passou pela Terra incólume foi Jesus, pois Ele já veio ter conosco na condição de Espírito perfeito.

Há fatores em nossa juventude, na maturidade e na velhice que influenciam para que venhamos a delinquir conscientemente ou até mesmo sem nos darmos conta do equívoco. Por isso, para o indivíduo que comete o aborto, além dos agravantes também existem atenuantes: a ignorância, as circunstâncias adversas que estimularam o ato, o choque social e o conflito psicológico que se derivam do infanticídio realizado. 

Esses elementos, por si sós, já são o início da reabilitação para o crime perpetrado. Tudo isto atenua a falta. No entanto, o atenuante mais representativo são as boas ações que praticarmos, porque não estamos na Terra para pagar, mas, sim, para resgatar pelo amor os erros que cometemos pela arbitrariedade. 

Errar é normal. Reabilitar-nos é dever moral.

Gostaria de enfatizar as minhas recomendações a quem estiver entrando em contato com esta proposta terapêutica relacionada à interrupção desautorizada da vida em formação.

Se você se equivocou e praticou o aborto, caso já tenha filhos, que vieram depois, provavelmente aquele Espírito já retornou aos seus braços e perdoou você. Perdoe-se! Liberte-se da culpa! Ame! A Divina Lei é de ternura, não é de impiedade, porque o nosso é o Deus de infinitamente amor!

Não temos que pagar olho por olho, dente por dente 31 (31. Êxodo, 21:24.) e palavra por palavra. Em absoluto!

Quando erramos, perturbamos a Ordem Universal. Por isso, a nossa reabilitação é feita quando recompomos esta mesma Ordem. Se, no passado, você atentou contra ela, hoje, com o seu lar e os seus filhos, você já conseguiu recuperar o que foi danificado.

Todo o bem que você fizer, será anotado para compensar aquele equívoco.

Mesmo que aquele Espírito ainda esteja no Além, se ele encontrar-se vinculado a você poderá renascer de um encontro “casual”, mas chegará aos seus braços. Se você já não se encontra mais na fase fértil do ciclo vital, ele poderá vir até você nos braços de uma pessoa conhecida, de alguém que precise dos recursos da sua solidariedade. Poderá vir como sobrinho, afilhado, alguém deixado em sua porta, etc. Por que a Lei é inexorável! E ela sempre aproxima o devedor do cobrador.

Adote afetivamente uma criança. Não é necessário levá-la para sua casa. Torne-se-lhe benfeitora, auxiliando-a na família com grandes carências materiais. Quando alguma criança necessitar de educação, de um socorro ou de um medicamento para recuperar a saúde, ajude-a em homenagem ao seu filhinho que não nasceu e fique em paz com sua consciência. 

Ampare uma pessoa sofrida. Distribua carinho. Cada gesto de amor irá aos poucos eliminando o mal que você praticou.

Ajude de alguma forma, os seus irmãos de humanidade, e deixe que o amor se encarregue de iluminar as paisagens sombrias do delito, pois “o amor cobre a multidão de pecados” 32. (32. I Pedro, 4:8.)

Infelizmente, é sempre a mulher quem paga o ônus mais expressivo. Sempre se fala da abortista, mas não se fala do indivíduo que a induziu ao aborto, seja o pai irresponsável, seja o profissional ou o leigo que realizou a cirurgia de interrupção criminosa da gravidez.

Às vezes, a jovem se entrega a um relacionamento afetivo-sexual por inexperiência. E quando se reconhece dilapidada, abandonada e infeliz, acaba optando pelo pior, por causa de diversos fatores. 

Isto acontece graças ao estímulo de uma cultura materialista e a determinados comportamentos esdrúxulos de pessoas que se celebrizaram. Mas, um dia, a consciência dessa jovem irá dizer-lhe que ela escolheu um caminho tortuoso.

Carl Gustav Jung 33 (33. 1875-1961. Psiquiatra suíço, criador da Psicologia Analítica.) afirmava que, em sua clínica destinada ao tratamento da depressão, o maior número de mulheres acima dos quarenta anos que apresentava um quadro depressivo havia praticado o aborto na juventude. Ao chegar à idade da razão, elas se davam conta do crime que cometeram quando eram inexperientes.

Não cultive a consciência de culpa e não olhe para trás! Não se auto-puna e nem se entregue à depressão! A Divindade nos enseja, na reencarnação, a oportunidade abençoada de crescer e de amar.

Fonte – Sexo e Consciência (Divaldo Pereira Franco) do Cap.3 “Renovação e Resgate”

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